Levantamento do Governo Federal revela que aproximadamente 1 milhão e 50 mil pernambucanos e mais de 1 milhão de baianos vivem em áreas suscetíveis a desastres naturais. Os números colocam Bahia (1º lugar) e Pernambuco (3º) entre os estados com maior proporção de habitantes em áreas de risco. A situação reflete um quadro de segregação socioespacial, onde as comunidades mais pobres são as mais vulneráveis.
Com a chegada do período de chuvas, algumas ações preventivas devem ser tomadas para evitar tragédias como as já ocorridas em anos anteriores em diversas capitais do país. Para discutir medidas mitigadoras, o Brasil de Fato Pernambuco conversou com Osvaldo Girão, professor do Programa de Pós-Graduação de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Confira:
Girão explica que a vulnerabilidade dessas populações está diretamente relacionada às condições de moradia. Nas grandes cidades do Nordeste, como Recife, Salvador e Fortaleza, áreas suscetíveis a enchentes, inundações e deslizamentos são ocupadas por pessoas que muitas vezes não têm outra opção. “Essas áreas de risco são resultado da dinâmica física natural dos ambientes. Quando as pessoas habitam margens de rios e encostas, elas se colocam em situação de perigo”, observa Girão.
A ocupação irregular de margens de rios e açudes agrava ainda mais a vulnerabilidade dessas comunidades. Girão explica que essas ocupações não só expõem os moradores a riscos, mas também potencializa os processos naturais. “As áreas ficam impermeabilizadas, sujeitas ao lançamento de resíduos sólidos e sanitários, aumentando o assoreamento dos rios e intensificando as enchentes e inundações”, destaca.
Sobre as políticas públicas atuais, Girão é crítico. Ele ressalta que as ações implementadas são, em sua maioria, emergenciais, faltando uma abordagem contínua e planejada. “A Defesa Civil, por exemplo, precisa de um planejamento permanente e ações que não sejam apenas reativas, mas também preventivas e pós-evento”, afirma.
Girão aponta que tecnologias sociais já são utilizadas para a convivência com o semiárido e podem ser eficazes na mitigação dos problemas climáticos. “A expansão de barragens e a reutilização da água são medidas importantes. Além disso, considerar o ecossistema da Caatinga e as estratégias de resiliência das populações locais é crucial”, explica.
Para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, Girão sugere políticas de planejamento e gestão voltadas para melhorias urbanas e drenagem em áreas de risco. “No semiárido é fundamental promover tecnologias sociais e ações de planejamento governamental que garantam a oferta de água e a permanência da população nesses espaços”, conclui.
O programa Trilhas do Nordeste, do Brasil de Fato Pernambuco, é exibido todas as segundas-feiras, às 19h45, na Rede TVT em São Paulo e no Youtube. Nesta edição, o Balaio Cultural indica o documentário “O amanhã é hoje” e o livro “Ideias para adiar o fim do mundo” como sugestões para refletir sobre o impacto das mudanças climáticas no Brasil e no mundo.
Edição: Vinícius Sobreira