palcos da Capital do Forró estão mais abertos a duplas sertanejas que nada têm a ver com nossa festa
Passados os dias de festas de São João em todo o Nordeste brasileiro, o diagnóstico é um só: está faltando forró na programação das festas de São João. E não sou só eu quem estou achando, viu?
Repercutiu muito na mídia a fala de Elba Ramalho falando que “assume logo que não é São João, que é um festival” e é isso mesmo que temos visto. Se há alguns bons anos a disputa era entre o forró raiz e o estilizado, agora a coisa fica mais complexa: grupos de sertanejo e até música eletrônica estão nas programações.
Em Caruaru, os palcos da Capital do Forró estão cada vez mais abertos para duplas sertanejas que muito pouco ou nada têm a ver com nossa festa. Em muitas cidades até DJ de música eletrônica teve.
Vejam, o problema não está nos grupos em si, mas no fato de que festas nesse formato já tem o resto do ano inteiro para fazermos. São João é só no mês de junho, e ano a ano o que eram 30 dias de forró vem se reduzindo a poucos dias de festa como a gente realmente conhece, gosta e espera o ano todo.
E, para além disso, a falta de forró se soma com a camarotização do palco que leva o nome do ritmo. O Pátio do Forró agora tem um “cercadinho” que dá à iniciativa privada o poder de usar o bem público e lucrar (e muito) com isso. Ano passado critiquei a camarotização do São João e esse ano vou continuar criticando, porque não tem cabimento uma festa pública ter camarote. Se é público, é para ser de todos!
Se quisermos que Caruaru continue sendo essa vitrine do forró e das tradições juninas, precisamos atuar diretamente para valorizar e dar visibilidade aos trios pé de serra, cantores, cantoras e bandas que desde sempre fizeram nossa cidade ser conhecida como a Capital do Forró - porque sem eles, o que vai ser da nossa festa?
Foi com esse objetivo que nosso mandato fez uma grande ação de entrega de Votos de Aplausos a mais de 40 grupos que mantêm viva a tradição do São João de Caruaru. Entre os homenageados estão Azulão, Vitória do Pife, Anderson do Pife, a festa O Maior Cuscuz do Mundo, Marlene do Forró, a festa Tareco e Mariola Gigante, a Quadrilha Junina Flor do Caruá, a Quadrilha Junina Brincantes do Sertão, o Batalhão de Bacamarteiros 27, Marcos do Pife, a banda Sangue de Barro, o sanfoneiro de 8 baixos Ivison Santos e muitos outros. Esse gesto é uma forma de reconhecer que sem essas e tantas outras pessoas o São João de Caruaru não seria o que é.
Não faço aqui um apelo saudosista - porque sim, as tradições mudam, se reinventam e são um reflexo do tempo -, mas as transformações se baseiam naquela raiz que é o fio condutor da história, e aqui, a raiz é o forró.
Numa onda de descaracterização das festas tradicionais do estado, a exemplo do FIG que não é mais FIG, é fundamental garantir que nosso São João caruaruense siga sendo como sempre foi: público, acessível, com gente da nossa terra e, o mais importante, com muito forró!
Edição: Vinícius Sobreira