Pernambuco

ELEIÇÕES 2024

Opinião | Entre o passado e o futuro: o plano da esquerda para as eleições municipais

“É imperativo que a esquerda se reconecte com as periferias, entendendo a dinâmica local e oferecendo um apoio tangível”

Brasil de Fato | Recife (PE) |
“A presença física e o engajamento ativo são fundamentais para reconstruir a confiança e estabelecer um vínculo duradouro com os eleitores” - Márcio Martins

Por Tomás Agra*

Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, é crucial que a esquerda brasileira reflita sobre os aprendizados das eleições anteriores e evite a repetição de erros. A pouco mais de três meses das urnas, é tempo de revisar estratégias e reforçar a presença nas comunidades, especialmente nas periferias, onde o apoio é essencial para uma campanha vitoriosa.

Compreendendo o voto evangélico

Um dos principais pontos de reflexão é a abordagem em relação ao voto evangélico. Muitas vezes esse voto é erroneamente interpretado como “voto de cabresto”, termo tradicionalmente associado a políticos que só aparecem durante as campanhas eleitorais para comprar votos de lideranças locais.

No entanto, o voto evangélico é mais complexo e está profundamente enraizado na presença contínua da Igreja nas periferias, áreas onde o Estado frequentemente falha em atender às necessidades básicas da população.

Os líderes religiosos desempenham um papel vital no cotidiano dessas comunidades. Eles oferecem apoio em momentos de dificuldade, como desemprego, dependência de drogas e alcoolismo.

A ajuda proporcionada pelos pastores cria um vínculo de confiança e reciprocidade, tornando o voto evangélico uma escolha pragmática e não meramente ideológica.

Esse tipo de apoio era similar ao que as pastorais e comunidades eclesiais de base ofereciam no passado, cuja ausência é sentida nos dias de hoje - com algumas exceções notáveis, como no Morro da Conceição e no bairro do Coque, ambos no Recife.

A perda de terreno nas periferias

Outro aspecto crucial é a conscientização de que a esquerda perdeu espaço nas periferias. Parte dessa perda pode ser atribuída a uma tendência de elitização dentro da própria esquerda, em que muitos líderes, embora oriundos de áreas periféricas, se afastaram das bases.

Esse afastamento resulta em uma presença limitada, muitas vezes restrita às redes sociais e a um público de seguidores que não reflete a realidade das comunidades mais necessitadas.

A questão que se impõe é: onde está a esquerda na periferia? É essencial retomar o trabalho de base, estar presente nas ruas, dialogar diretamente com as comunidades e entender suas necessidades e preocupações.

A presença física e o engajamento ativo são fundamentais para reconstruir a confiança e estabelecer um vínculo duradouro com os eleitores.

Unir a ação e a reflexão

No entanto, a estratégia não deve se restringir apenas às questões pragmáticas. A campanha Mãos Solidárias demonstrou que a batalha das ideias também é crucial.

O educador Paulo Freire já enfatizava a importância da união entre ação e reflexão. Apenas através dessa combinação é possível efetivamente engajar e mobilizar a população. A reflexão sem ação resulta em teoria vazia, enquanto a ação sem reflexão se torna ativismo sem direção.

A esquerda precisa retomar a prática de envolver-se ativamente nas comunidades, oferecendo soluções práticas para os problemas imediatos, ao mesmo tempo em que promove um diálogo contínuo sobre questões ideológicas e sociais.

Essa abordagem integrada é essencial para reconstruir a base de apoio e garantir uma presença forte e significativa nas eleições.

Caminho a seguir

Para as eleições de 2024, é imperativo que a esquerda brasileira se reconecte com as periferias, entendendo as dinâmicas locais e oferecendo um apoio tangível. Isso inclui:

1. Presença Contínua: estar presente nas comunidades ao longo de todo o ano, não apenas durante o período eleitoral.

2. Diálogo Ativo: engajar-se em conversas abertas e honestas com os moradores das periferias, ouvindo suas necessidades e preocupações.

3. Ação Concreta: oferecer soluções práticas para problemas cotidianos, estabelecendo uma rede de apoio similar à oferecida pelas igrejas.

4. Educação e Reflexão: promover a educação política e social, incentivando uma reflexão crítica sobre as questões que afetam a comunidade.

Ao seguir esses passos, a esquerda pode fortalecer sua base, recuperar a confiança dos eleitores e se posicionar de maneira mais eficaz para as eleições municipais de 2024.

O caminho não é fácil, mas com uma abordagem consciente e integrada, é possível avançar e alcançar resultados significativos.

*Tomás Agra é advogado, militante do MST e pré-candidato a vereador do Recife.

Edição: Vinícius Sobreira