No último sábado, a Federação PSOL-Rede no Recife realizou sua convenção partidária e formalizou a primeira chapa para a disputa da Prefeitura do Recife em 2024. Os nomes escolhidos foram os da deputada estadual Dani Portela (PSOL), como candidata a prefeita, tendo como vice Alice Gabino (Rede) - ambas mulheres negras.
À frente da federação, a maioria das cadeiras pertence ao PSOL, que não deu chance ao desejo de candidatura do deputado federal Tulio Gadelha (Rede). A aprovação se deu com 70% dos votos dos dirigentes da federação partidária na capital pernambucana. Apesar da discrepância no número de cadeiras, o parlamentar não se rendeu e levou seu pleito à imprensa e aos caciques da Rede.
A disputa interna com Dani levou a trocas de farpas públicas entre os dois ao longo dos últimos meses. O clima resultou na não-participação de Gadelha na convenção da federação partidária deste sábado, mesmo sendo o nome com maior projeção dentro desse grupo em Pernambuco.
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Nesta segunda-feira (22) o deputado federal disse, em conversa com a imprensa, ter acatado a decisão da maioria e classificou como “importante” a candidatura de Dani. “Estou fora. Coloquei minhas ideias, projetos... Mas é preciso entender que na federação o PSOL é maior que a Rede. O PSOL detém esse poder decisório. São as regras do jogo democrático”, disse Tulio, que esperava que o impasse fosse levado ao plano nacional, onde os dirigentes poderiam intervir a seu favor, o que não aconteceu.
Ao contrário, o porta-voz nacional do seu partido, Wesley Diógenes (Rede), que participou da convenção, classificou como “erro histórico” as recentes intervenções de Gadelha na Rede. Nas últimas semanas, Tulio vetou os nomes de Alice Gabino (agora candidata a vice-prefeita) e do seu próprio irmão, Ricardo Gadelha (agora candidato a vereador), acusando-os de “infidelidade partidária”, porque ambos declararam apoio ao nome de Dani Portela (PSOL) como candidata da Federação PSOL-Rede. Os vetos foram derrubados pela direção nacional.
Sobre o assunto, Tulio afirmou que sua relação no partido está “excelente”. “Nosso campo tem 90% da direção estadual. Mas existem divergências, como em todo partido”, minimizou.
Diógenes também afirmou que a Rede espera engajamento de Tulio Gadelha na campanha, tanto para eleger vereadores do partido, como pedindo votos para a chapa majoritária. “A gente espera que o deputado Túlio possa vir conosco, construindo um programa para transformar o Recife, porque ele faz parte dessa Federação”, cobrou o dirigente nacional do partido. Deputado federal há 6 anos, Gadelha ainda não conseguiu eleger um deputado estadual ou mesmo um vereador no Recife.
Dani Portela (PSOL) foi mais discreta. Disse apenas que as desavenças são “página virada” e que está “de braços abertos” a quem quiser somar para construir um projeto para o Recife.
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O evento aconteceu na Casa Marielle Franco, sede do PSOL no Recife, e contou com a presença de petistas como o ex-prefeito e hoje deputado estadual João Paulo, colega de Dani na Assembleia Legislativa; e da influenciadora digital Kari Santos, pré-candidata a vereadora pelo PT.
Desde maio, PSOL e a Rede realizaram 16 plenárias na capital pernambucana, reunindo aproximadamente 1.500 pessoas. O objetivo foi realizar uma escuta da população, ao mesmo tempo em que apresentava as até então pré-candidatas.
Críticas ao PSOL
Apesar dos acontecimentos recentes dentro da Rede, Tulio classificou o PSOL como “radical” durante a entrevista desta segunda. Ele pediu mais respeito às divergências. “O PSOL precisa tentar dialogar com o campo mais amplo e respeitar os que pensam diferente. Vemos isso [diálogo amplo] na direção nacional, mas não vemos na direção local em Pernambuco”, fustigou. “Acho que o radicalismo tem prejudicado muito o crescimento do PSOL no estado”, completou Tulio.
O deputado federal alega que os 11 pré-candidatos a vereador pela Rede no Recife não têm sido bem tratados pelo PSOL. “Eles fizeram queixas, não se sentiram acolhidos. Se somos federação, por mais radical que seja o PSOL, tem que haver um tratamento humano”, reclamou Tulio. “Espero que o PSOL acolha os candidatos da Rede e melhore essa relação”, emendou.
Farpas
Nos últimos meses, o deputado federal acusou Dani de ser próxima do PSB e do prefeito João Campos, usando para isso o fato de a psolista ter recebido, em sua casa, uma visita do prefeito semanas após ter dado à luz; e também o fato de a deputada ter liderado, com anuência do PSB, o bloco de oposição à governadora Raquel Lyra (PSDB) na Assembleia Legislativa.
Dani Portela, por outro lado, afirmou que uma possível candidatura de Túlio Gadêlha à prefeitura do Recife era de grande interesse da governadora tucana, destacando que o deputado tem se mantido próximo a Raquel Lyra desde que a apoiou na eleição de 2022.
Edição: Vinícius Sobreira