Pernambuco

Coluna

Sobre pódios e urnas

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Nos jogos eleitorais, diferente das Olimpíadas, não basta a pessoa ser boa no que faz. O pódio é definido pelo tamanho que cada torcida vai ficar até 6 de outubro. - Alexandre Loureiro/COB
Sim, aperreado com as atas das eleições da Venezuela. Mas será que Marta faz o gol do ouro na final?

Verdade seja dita: estou escrevendo este texto com a televisão ligada. A tela dividida em quatro mostra provas de distintas modalidades esportivas. Vim aqui falar da proximidade das eleições municipais, onde meu juízo se localiza. Mas o coração segue na França, acompanhando as peripécias das mulheres brasileiras que vêm dando show, assumindo o protagonismo das disputas e dando na gente aquele orgulho esquisito que bate quando a gente se identifica com alguém que está botando pra quebrar.

Desde que Snoop Dogg (hein? hein?) carregou a tocha pelas ruas de Paris e o banquete de Baco fez muita gente arrepiar os cabelos de desconhecença, a trilha sonora de minhas andanças, ginásticas, escritos e conversas têm sido as narrações muitas vezes de modalidades que eu não conheço e me torno automaticamente fã e especialista. Chegou ao ponto de, numa reunião importante, haver um telefone ligado com as primeiras baterias do surfe no centro da mesa. Não fui eu quem colocou, mas também não reclamei. Só reclamei das ondas do Taiti, mas paciência.

Assim, enquanto finalizava um relatório, me emocionei com as conquistas de Raíssa e Larissa, que junto com William inauguraram nosso quadro de medalhas (sim, estou íntimo de todo mundo e chamo pelo primeiro nome). Visitando minha irmã, na tela havia uma Bia que eu nunca tinha visto em toda a minha vida e que me fez chorar de alegria.

Quando Rebeca ganhou nosso segundo ouro, eu me preparava para participar da primeira sessão do semestre na Câmara de Vereadores. O episódio uniu toda a legislatura. Direita, esquerda, base e oposição: todo mundo se sentiu no alto do pódio. Sim, eu estou aperreado com a Venezuela, com as atas das eleições que não aparecem. Mas será que Marta vai voltar à seleção na final e fazer o gol do ouro, se despedindo dos jogos em grande estilo?

Além dos louros pra quem vence as disputas, me encanta nos jogos a esportividade de quem compete, o reconhecimento dos méritos de pessoas adversárias, a leveza com que as torcidas se comportam.

Não querendo romantizar (mas já romantizando), não era massa se a gente pudesse tirar algumas dessas lições pro nosso dia-a-dia? Buscar conhecimento; se esforçar para atingir excelência na atividade que amamos; aprender com os erros; correr atrás do resultado mesmo quando o obstáculo é grande e o adversário é nitidamente mais forte; orgulhar-se de ter tentado?

Enquanto eu escrevo este texto, faltam menos de dez dias para ter início a campanha eleitoral e as provas esportivas mundiais não duram mais os dedos de uma mão. Ao contrário do que você pode imaginar, não falta candidatura boa. Eu mesmo vou apoiar duas mulheres que tão afiadíssimas pra esta maratona.

Nos jogos eleitorais, assim como nas Olimpíadas, cada pessoa que compete vai tentar se destacar, mesmo consciente que vêm de lugares diferentes de privilégio e acesso a direitos. A diferença na estrutura de cada delegação (ou chapa?) pesa, mas não define o final da partida.

Nos jogos eleitorais, porém, diferente das Olimpíadas, não basta a pessoa ser boa no que faz, ter-se preparado, apresentar-se com competência ou mesmo contar com a sorte. Na corrida até as urnas, as  pessoas escolhidas por seus  partidos sabem bem que o pódio é definido pelo tamanho com que cada torcida vai ficar daqui para 6 de outubro.

Para saltar à altura do cargo que almeja, a turma que vai botar a cara no santinho precisa mesmo é de gente por perto fortalecendo e fazendo suas lutas chegarem mais longe. Aí pode ter revezamento na panfletagem, lançamento de proposta, militância à distância.

Mais do que escolher em quem votar, quem reconhece a importância da vitória de uma galera massa, que quer transformar mesmo a política, precisa saber que a hora é de botar a mão na massa e se escalar numa equipe e entrar em campo. Sacou? Até porque a próxima chance que a gente vai ter para mudar tudo no legislativo e executivo de nossa cidade é só daqui a quatro anos.

Edição: Vinícius Sobreira