No dia 2 de outubro de 2021, numa manifestação de rua no centro do Recife sob o lema “Fora Bolsonaro”, o condutor Luciano Matias Soares colocou seu Jeep Renegade contra os manifestantes e carregou, no capô, a advogada Isabela Freitas por 50 metros, antes de passar por cima de sua perna e ir embora sem prestar socorro. A vítima foi parar na UTI. O caso se deu na avenida Martins de Barros, bairro de Santo Antônio, centro da capital.
Um mês depois a Polícia Civil concluiu a avaliação e indiciou o administrador de empresas por tentativa de homicídio “privilegiado” - atenuante em que divide parte da culpa com a vítima. A vítima do atropelamento é membro das comissões de Direitos Humanos e de Advocacia Popular da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco.
Segundo informações de Raíssa Ebrahim, na Marco Zero Conteúdo, Luciano Soares, hoje com 40 anos, foi condenado a seis anos de prisão em regime fechado por tentativa de homicídio doloso qualificado pelo perigo comum, por ter ameaçado não só a vítima, mas a coletividade. O agressor terá que pagar cinco salários mínimos à vítima (cerca de R$ 7 mil em valores de 2024) como reparação de danos. As decisões ainda são passíveis de recurso e Luciano poderá recorrer em liberdade.
Ainda segundo a Marco Zero, Isabela hoje é mãe de um bebê. No acidente ela ainda sofreu traumatismo craniano e enfrenta uma perda funcional de 50% da perna esquerda, esmagada por um veículo de uma tonelada e meia. Foram duas cirurgias para implantar 15 pinos e quatro placas de titânio. A advogada ficou de cadeira de rodas, em seguida muletas, que usa até hoje quando tem crises de dor.
Em conversa com Raíssa Ebrahim, Isabela conta que o dia do julgamento também foi traumático. “O dia não começou fácil. Tive que voltar ao pior dia da minha vida. O dia que eu enfrentei a morte. Olhar para o rosto de quem me causou o trauma que ainda tento superar foi bem difícil. Eu consegui vitória da morte, mas a minha vida ainda está na luta de superar o trauma e as sequelas físicas e emocionais”, declarou ela à reportagem da Marco Zero.
A vítima se disse fortalecida para os próximos julgamentos. “Eu não nasci PCD (Pessoa com Deficiência), me deixaram PCD. Fora as consequências emocionais, ainda tem as físicas. (...) Eu tive que levar meu filho para aquele tribunal e isso me abalou muito. Mas ao mesmo tempo me deixou mais forte para encarar novamente aquela pessoa. Sem a ajuda de tanta gente, eu não estaria aqui nem conseguiria essa vitória”, disse Isabela.
Ela agradeceu o apoio das pessoas à sua volta. “No final, o dia foi justo comigo. Consegui ter justiça graças à luta que não foi só minha para essa vitória. Advogadas/os, amigas/os e companheiras/o de luta me ajudaram. A vitória não é minha, é de um bocado de gente e da minha família que caminha comigo na luta. Eu só consigo agradecer e agradecer”, completou.
Para mais informações, leia a reportagem completa na Marco Zero Conteúdo.
Edição: Vinícius Sobreira