Pernambuco

LUTA SINDICAL

Diante dos lucros recordes do setor, trabalhadores dos bancos do Recife protestam por melhores salários

Bancos brasileiros tiveram lucro recorde de R$144 bilhões em 2023; trabalhadores pedem aumento inferior a 9%

Brasil de Fato | Recife |
Bancários do Recife realizaram um protesto que passou pelas agências do Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil da avenida Caxangá - Sindicato dos Bancários/divulgação

Na manhã desta segunda-feira (12) o Sindicato dos Bancários de Pernambuco realizou um protesto que passou pelas agências do Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil da avenida Caxangá, na zona oeste do Recife. A categoria pede aumento salarial com ganhos reais de 5% acima da inflação, reajuste nos vales refeição e alimentação, no auxílio-creche e aumento da participação nos lucros e resultados.

Nesta terça-feira (13) os representantes dos trabalhadores têm novo encontro com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que representa os interesses dos empresários e empresas do setor.

Os bancos brasileiros nunca faturaram tanto como atualmente. Em janeiro, o Banco Central divulgou que os bancos brasileiros tiveram um lucro recorde de R$144 bilhões só em 2023 - superando 2022, quando o lucro também foi recorde, de R$139 bilhões.

Segundo cálculo dos bancários, o lucro líquido dos maiores bancos no Brasil cresceu, nos últimos 20 anos, cerca de 169% acima da inflação, sempre mantendo elevada rentabilidade, mesmo em momentos de crise. Atualmente, 82% do crédito brasileiro e 81% dos ativos do setor financeiro estão nas mãos dos bancos.


A categoria tem até o fim de agosto para viabilizar um acordo de aumento salarial junto às empresas / Sindicato dos Bancários/divulgação

Diante dos resultados positivos, os trabalhadores bancários pedem um aumento salarial que compense as perdas da inflação de setembro de 2023 a agosto de 2024 (ainda a ser consolidada, mas estimada em 3,69%) e mais 5% de ganho real nos salários (ou seja, total estimado de 8,69%), o aumento no repasse da participação dos lucros e resultados (PLR) e melhorias em benefícios como vales alimentação e refeição.

Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, explica que o prazo para o acordo está próximo ao fim. “Temos até o dia da nossa data-base, 1º de setembro, para um acordo. Após isso, não temos segurança jurídica do cumprimento da convenção coletiva e ficamos desprotegidos”, lamenta ele, que representa Pernambuco na mesa de negociação com os banqueiros.

Por isso, diz Moura, o sindicato tem buscado aumentar a coesão da categoria e elevar a pressão sobre os bancos para além da capital pernambucana. “Na semana passada fizemos uma caravana no Sertão, passando por Araripina, Ouricuri, Salgueiro, Serra Talhada e Arcoverde, com reuniões e atos públicos em todas as agências desses municípios”, recorda.

Segundo Fabiano, essas atividades nas agências são bem recebidas pelos trabalhadores e mesmo por clientes. “Não há hostilidade. Os trabalhadores são muito receptivos, tiram dúvidas, pedem informações. Temos sido muito bem recebidos, inclusive pelos clientes, mesmo que durante a reunião os atendimentos sejam interrompidos. Também queremos melhorias no atendimento a eles”, garante.


Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco / Sindicato dos Bancários/divulgação

Nos últimos oito anos, segundo o sindicato, os trabalhadores dos bancos tiveram um déficit de 0,3% nos valor real do salário, que não cresceram o suficiente para cobrir as perdas inflacionárias. A alta lucratividade do setor faz surgir novos bancos - e a Fenaban tem usado esse argumento para negar o aumento aos trabalhadores, alegando que “o aumento de concorrência coloca o setor bancário em risco no país”.

Os empresários querem negociar com a categoria “por setores”, dividindo os bancários em subgrupos, o que é visto pelos trabalhadores como uma tentativa de enfraquecê-los. A categoria teve um encontro com a Fenaban na última quarta-feira (7).

Além do já mencionado aumento salarial, os bancários pedem que a PLR seja garantida sem descontos a todos os trabalhadores com pelo menos 3 meses de trabalho, independente da faixa salarial, incluindo aposentados e afastados por motivos de saúde ou acidente, além de transparência nas regras para o pagamento do PLR. 

A categoria também quer reajuste nos valores do vale alimentação, saindo dos atuais R$836 para R$1.412; e do vale refeição, saindo de R$1.061 (divididos em 22 tickets de R$48) para R$1.412 (em 23 tickets de R$61,39); além do aumento no auxílio-creche e babá também para o valor de um salário mínimo (atualmente R$1.412).

Edição: Vinícius Sobreira