Não podemos jamais abaixar a guarda quando o assunto é a defesa da vida das mulheres e meninas
Estamos mais uma vez passando pelo Agosto Lilás, o mês que é dedicado à conscientização pelo fim da violência contra as mulheres. Agosto também é o mês de aniversário da Lei Maria da Penha, que mesmo com a tentativa dos bolsonaristas de manchar a imagem de Maria da Penha e inocentar seu agressor, continua sendo um marco da nossa legislação no combate à violência.
Mas, infelizmente, mesmo num mês de conscientização, crimes brutais não param de acontecer. No começo do mês uma delegada pernambucana foi morta dentro do próprio carro, no interior da Bahia. O principal suspeito do crime é um namorado da vítima. Ele tem histórico de violência, com 26 ocorrências policiais envolvendo seu nome.
A delegada Patrícia Jackes era uma profissional dedicada à pauta da violência contra a mulher e dava palestras sobre o tema, mas infelizmente isso não a livrou de morrer sendo vítima de um homem que se dizia seu “companheiro”. É por isso que não podemos jamais abaixar a guarda quando o assunto é a defesa da vida das nossas mulheres e meninas.
Ainda que Pernambuco tenha passado por uma redução no número de feminicídios, de acordo com dados da própria Secretaria de Defesa Social (SDS) ainda somos o estado que ocupa o primeiro lugar no número de casos de feminicídio entre os estados do Nordeste monitorados pela Rede Rede de Observatórios da Segurança. Só no ano passado, 92 mulheres foram mortas por feminicídio. Ou seja, estamos avançando, mas é urgente reduzir a violência, porque a vida de cada mulher conta e precisa ser protegida.
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Para além do feminicídio, que é muitas vezes a última etapa do ciclo da violência, o Agosto Lilás também é o momento de conscientizar sobre os outros tipos de violência às quais estamos expostas. Aqui, queria destacar duas que têm crescido assustadoramente. A primeira é a violência psicológica: relacionamentos abusivos, insultos que diminuem a mulher e sua capacidade, muitas vezes acompanhados de racismo e homofobia. Tudo isso é uma espécie de violência que acontece no dia a dia da mulher e que até ela mesma tem dificuldade identificar como tal e romper o ciclo.
O segundo tipo é muito comum entre os jovens e mistura a violência psicológica e patrimonial. Tem surgido com muita frequência casos onde meninas são ameaçadas a pagarem valores altos em dinheiro para evitar que fotos íntimas sejam vazadas. E, em muitos casos, as fotos nem são reais, são montagens feitas com ajuda da inteligência artificial. Dá pra entender a perversidade disso? Só para se ter uma ideia, o vazamento de fotos sem consentimento é o crime virtual mais reportado no Brasil, com mais de 500 casos em 2020 - a maioria absoluta entre adolescentes.
É por isso que não podemos abaixar a guarda no combate à violência contra as mulheres. Esse é um dever não só nosso, das mulheres, mas de toda a sociedade. Se queremos construir um país livre de violência, combatê-la precisa ser uma tarefa constante e passada através das gerações, para que possamos, um dia, ter um mundo em que as mulheres e meninas sejam verdadeiramente livres.
Edição: Vinícius Sobreira