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Coluna

As eleições, as redes sociais e as tarefas da democracia

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"A maior parte das pessoas definem sua escolha a partir de sugestões que vêm de gente em quem confiam. Então é meter um adesivo no peito e ter a ousadia pra falar de quem você quer ver eleita" - Reprodução
Pra você que lê o BdF e tá envolvida com alguma candidatura, vale o que digo sempre: votar é pouco!

Uma semana de campanha eleitoral e a gente já sabe quem serão os grandes vencedores. Sim, porque independente do resultado, tá na cara que as duas ou três empresas que, quase sem controle, controlam a internet no Brasil (e no mundo) irão se refestelar com o recurso que vem prioritariamente do fundo eleitoral.

Em 2020, nas últimas eleições municipais, o gasto total com as plataformas chegou a quase R$ 100 milhões. Dois anos depois, foram mais de R$ 147 milhões, quase 50% a mais. Desta vez, quem duvida que vai passar de R$ 200 milhões? Eu mesmo não. Serão quase R$ 5 bilhões do Fundo Eleitoral, como sempre divididos de forma praticamente discricionária pelo punhado de gente que controla nossos partidos políticos.

As malandragens e momentos quase humorísticos que antes se resumiam ao horário eleitoral gratuito não têm mais limites. É gente fingindo atropelamento, contando mentira adoidado, fazendo ataque de ódio, fazendo dancinha. Difícil mesmo é encontrar um meio que privilegie o debate de ideias e o conteúdo realmente político.

Enquanto os feeds de quase todas as grandes redes sociais tornaram-se um circo em que candidatos tentam de tudo para fazerem-se visíveis, as ruas - pelo menos até agora - andam morgadas. Há quem diga que boa parte do dinheiro que não cair direto nos bolsos dos Zuckerberg da vida acaba mesmo nos bairros, com a promessa de “trabalho” na campanha eleitoral. O trabalho em questão pode ser segurar uma bandeira, distribuir panfletos ou mesmo juntar a própria família pra garantir o voto de todo mundo.

Assim, entre candidaturas-celebridades, monstruosas estruturas de compra de voto e uma dificuldade tremenda de chamar a atenção das pessoas - via de regra mais preocupadas em garantir sua sobrevivência do que em analisar quem apresenta melhores condições de legislar ou governar, como fazer pra melhorar a situação das nossas prefeituras e câmaras no próximo ciclo?

Primeiro é entender que não falta candidatura boa. Em diversos partidos tem gente massa, gente nova, gente experiente, gente de todas as identidades possíveis e imagináveis. Quem está em dúvida e quer decidir, vale a pena ter um trabalhinho. Reflita sobre suas prioridades e vá procurar com quem você combina mais. O que não faltam são listas organizadas por organizações da sociedade civil ou mesmo possibilidades de busca ativa em que você vai escolher quem tem mais trabalho pela tua pauta, quem se parece mais contigo, ou mesmo quem mora mais perto. O critério é seu. 

Pra você, que lê o Brasil de Fato e (certeza!) já tá envolvida com alguma candidatura, vale o que eu digo sempre: votar é pouco! Quem quer fazer a diferença num Brasil em que quase um terço da população praticamente já desistiu da democracia formal não pode se contentar em apenas escolher um número e digitar os pitoquinhos na urna eletrônica. Tem que entrar em contato com a campanha, pegar material, se inserir nas atividades e - mais importante que tudo: pedir voto!

Isso mesmo! A maior parte das pessoas definem sua escolha a partir de sugestões que vêm de gente em quem confiam. Então é meter um adesivo no peito e ter a ousadia pra falar de quem você quer ver eleita em tudo o que é lugar. Na escola, na academia, no mercado, no salão, no futebol, no bar, na igreja e em todo canto.

Note que eu estou falando de muitos lugares em que a campanha é proibida de entrar. A campanha é, mas você não. Não é proibido conversar sobre política nem é proibido tentar convencer parentes e amigos a votar em quem você deseja. 

Em tempos de muito dinheiro sendo jogado pra cima e pouco interesse real na política, eu tenho certeza que você tem muito mais condições de ‘ganhar votos’ a partir de suas redes pessoais do que muita candidatura milionária. Lembra de falar sempre no individual, evitando craudear os grupos que não são de política - sob o risco de queimar o filme da tua vereadora mais do que conquistar corações. 

Ah, e não esquece de uma coisa: tem muita gente boa precisando entrar! Então bora evitar ficar falando mal da coleguinha na intenção de disputar apenas o “cercadinho” de seu grupo político. Além da (muita!) turma que não faz questão de votar e que precisa ser atingida pela sua mensagem, tem uma galera enorme também insatisfeita com quem votou nas eleições passadas que possivelmente vai adorar conhecer as propostas de quem você vai defender. 

Daqui para outubro serão quase dois meses que você terá pra conversar com o máximo de gente possível. Que tal juntar as amizades e fazer competição de quem fala com mais gente, de quem vira mais voto? “Gamificar” a campanha pode ser uma estratégia bacana pra mobilizar mais gente e tornar tudo mais divertido. 

O que não pode é ficar de bobeira reclamando na internet que a política não presta. Democracia é bom, mas dá um trabalho danado.

Edição: Vinícius Sobreira