Na manhã desta terça-feira (27) o Centro das Mulheres do Cabo (CMC), respeitada organização de luta feminista e por Direitos Humanos com sede no Cabo de Santo Agostinho, recebeu homenagem da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) pelos 40 anos de atuação do CMC. A honraria foi entregue durante a abertura da 3ª Semana Dom Hélder Câmara de Direitos Humanos promovida pela instituição de ensino até a próxima quinta (29).
Izabel Santos, coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo, comemorou o reconhecimento. “Receber essa homenagem foi muito importante, já que sempre trouxemos os Direitos Humanos como referência para a nossa luta”, diz ela. A cerimônia foi promovida pela Cátedra Dom Hélder Câmara de Direitos Humanos, grupo de estudos da Unicap em parceria com a Unesco, braço da ONU voltado para educação, ciência e cultura.
Izabel também destaca a disposição para o diálogo entre universidades e organizações da sociedade civil. “A troca do nosso conhecimento e prática com o conhecimento da academia faz com que todos cresçamos e possamos produzir mais benefícios para as mulheres”, diz ela. “O nosso feminismo valoriza as mulheres na base da sociedade. Então trazer a academia para debater os problemas do povo, sobretudo das mulheres, é fundamental”, completa a militante feminista.
Da água na torneira às ondas do rádio
O CMC surgiu de uma luta comunitária das mulheres, que queriam abastecimento de água regular durante o dia, já que a água chegava só de madrugada submetia as mães de família a passarem noites em claro armazenando água e realizando afazeres domésticos. A luta e a mobilização das mulheres deu origem a duas organizações. A primeira foi uma associação de moradores, para a qual um homem foi eleito presidente. Parte das mulheres, insatisfeitas com o processo, convocaram uma nova reunião que deu origem ao CMC.
Desde a fundação, o Centro das Mulheres do Cabo tem como pauta central o enfrentamento às violências de gênero, doméstica e familiar contra as mulheres. A organização teve atuação forte na disseminação da Lei Maria da Penha, sendo as responsáveis por levarem a lei impressa para um delegado do município, na noite do dia 22 de setembro de 2006, levando a Polícia Civil a acatar denúncia de Cileide Cristina da Silva, sendo o primeiro caso enquadrado como violência contra mulher em Pernambuco.
Ao longo dos anos, as pautas do CMC passaram a abranger as pautas de infância, adolescência e juventude - hoje colaboram com o Fórum das Juventudes do Cabo (Fojuca), por exemplo -, abraçando as lutas por acesso à cultura, lazer e esporte, pelo direito à comunicação, participação política e contra a violência que atinge os jovens. A instituição é referência de “feminismo popular” em Pernambuco.
As mulheres também mantêm, há 30 anos, o programa “Rádio Mulher”, que hoje vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h da manhã, na rádio comunitária Calheta 98,5 FM, do Cabo de Santo Agostinho - com transmissão ao vivo nas páginas do CMC no Instagram e no Facebook. O programa consolidou o CMC como referência junto à população e às autoridades locais.
Edição: Vinícius Sobreira