Pernambuco

Coluna

Natália Rosa, presente!

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Viviane Sarmento: “Conheci Natália nas trincheiras da luta e seguimos lado a lado. Escrevemos capítulo de livro, artigos, palestras, mas o que de melhor e mais potente fizemos foi nos tornar amigas” - Arquivo pessoal de Viviane Sarmento
Fizemos muitas coisas juntas - mas de todas, a melhor e mais potente foi termos nos tornado amigas

Nesse retorno à escrita das colunas do Brasil de Fato, estava com um texto pronto para falar das Paralimpíadas. Ocorre que na última sexta recebi a notícia do falecimento de uma grande amiga, Natália Rosa, que inclusive já escreveu comigo alguns textos para este jornal. 

Em tempo que escrevia sobre o capacitismo em suas diversas vertentes nos jogos Paralímpicos, tinha meu coração tomado por angústia. Tinha algo ebulindo dentro de mim, querendo sair. Um misto de tristeza e revolta. Eu entendi... Queria falar de Nath, como eu a chamava. 

Natália Rosa era jornalista popular, feminista, mulher com deficiência, integrante do Coletivo Hellen Keller. Eu a conheci nas trincheiras da luta e, assim que nos encontramos, seguimos lado a lado. Nossa partilha era muito bonita e produtiva também. Fizemos muitas coisas juntas – escrevemos capítulo de livro, artigos, palestras -, mas de todas, a melhor e mais potente foi termos nos tornado amigas, pois foi esse fator que nos possibilitou a procura de conexão diante das frestas de horror de uma sociedade misógina, racista, desigual e capacitista.

Eu ainda estou sem acreditar na sua partida, nem sei direito o que sentir. Mas no misto de emoções, tenho clareza da revolta. Isso porque, apesar de Nath ter sido uma das militantes mais potentes e preparadas que já conheci, foram poucas as oportunidades que ela teve de desempenhar o seu potencial profissional/intelectual, mesmo dentro dos campos progressistas.

Revolta porque, mesmo na linha de frente das lutas anticapacitistas, muito comumente seu corpo era usado para representar e não para emancipar. Revolta, porque ela tinha um mundo de competência e didática, mas resumiram ela a superação. Mais revolta, pela falta de assistência e políticas públicas de cuidado, pela negligência médica, a mesma que enquadrava a funcionalidade dos corpos como o de Nath... Pelas naturalizações fatais da nossa sociedade.

Por outro lado, como disse Maya Angelou, “as pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse , mas elas sempre lembrarão como você as fez sentir”, por isso, gostaria de dizer que Natália Rosa me fez sentir esperança e força. 

De vestidinho e batom vermelho - que eram sua marca registrada em dias de guerra contra o capacitismo -, ela me dizia, com o coração cheio de indignação e sonhos, sobre a arte de escrever, atuar e existir. 

Através do seu belo sorriso e da sua fala didática, era uma potente e forte combatente que, através do seu corpo PCD, subvertia a ordem patriarcal e capacitista de um mundo que disse para ela não ser e, mesmo assim, ela foi, escrevendo história e deixando a sua marca no território pernambucano. 

Escrevo hoje para que não seja esquecida, para que as histórias e corpos caminhem alinhadas. Escrevo para falar que Nath foi resistência, que plantou uma semente dentro de mim, dos meus colegas de Garanhuns, dos meus alunos que muito sentiram sua partida. Ela enfrentou o medo e, com coragem, nos mostrou sobre partilha e propósito coletivo!
 
Natália Rosa, presente!!! Hoje e sempre...

Com amor, para Natália Rosa.


“De vestidinho e batom vermelho - sua marca registrada em dias de guerra contra o capacitismo -, ela me dizia, com o coração cheio de indignação e sonhos, sobre a arte de escrever, atuar e existir” / Reprodução das redes sociais de Natália Rosa

Edição: Vinícius Sobreira