Pernambuco

Coluna

O clima mudou e a política também precisa mudar

Imagem de perfil do Colunistaesd
Em 2017, população de Palmares e municípios vizinhos, na zona da mata sul do estado, sofreram com a cheia do Rio Una - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato
A crise climática nos obriga a implementar com urgência mudanças no nosso modelo de desenvolvimento

Em mais um ano de eleições, surge uma pergunta importante: por que é essencial votar em candidatos que, além de falarem sobre questões ambientais, sejam verdadeiros ativistas na luta socioambiental e tenham um compromisso real com a agenda ambiental e climática?

Antes de responder, é importante entender que, historicamente, a questão climática foi deixada de lado por muitos políticos porque o próprio eleitor não priorizava o voto com base no meio ambiente. No Brasil, o clima e o meio ambiente sempre foram vistos como problemas “secundários”, que só seriam resolvidos depois de outras urgências. Mas isso não aconteceu porque as pessoas não se importavam - e sim porque não tiveram acesso a essas informações e nem à educação ambiental na escola.

As questões ambientais não são só sobre o derretimento das calotas polares, mas também sobre eventos extremos, cada vez mais intensos, que afetam pessoas no mundo todo de formas diferentes. É crucial entender que o clima está ligado a temas que são muito importantes para os eleitores, como saúde, educação, renda e moradia. Precisamos mostrar que a questão ambiental é transversal.

As consequências das mudanças climáticas já estão aí: aumento da pobreza, mais vulnerabilidade para as pessoas - especialmente mulheres, indígenas e a população negra -, fome, impacto na economia, aumento e escassez de alimentos, crianças fora da escola e do lazer, piora na saúde mental e, acima de tudo, perda de vidas. Precisamos destacar essa conexão e tratar a questão climática como prioridade, porque o clima afeta tudo e todos - e ignorar a crise climática só piora as violações dos Direitos Humanos e as injustiças sociais.

Não podemos esquecer que o Recife está entre as 16 cidades mais vulneráveis aos efeitos da mudança climática no mundo, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima). Toda vez que chove, os recifenses que moram em áreas vulneráveis ficam sem dormir, com medo de perderem suas casas e até suas vidas.

Em maio de 2022, chuvas fortes atingiram Recife, causando deslizamentos de encostas que resultaram em 140 mortes, 122 mil pessoas desalojadas, 68 mil casas danificadas e 3 mil destruídas, de acordo com o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Este ano de 2024 as marés foram tão altas que vários pontos da cidade de Recife ficaram alagados, mesmo sem chuva, causando problemas para a mobilidade.

Diante dessa situação, precisamos de lideranças políticas comprometidas com a implementação de políticas climáticas para mitigar, reduzir as chances de eventos extremos no presente e no futuro; políticas para adaptação, preparando nossa cidade para quando esses eventos acontecerem; e políticas para perdas e danos, respondendo de forma rápida e eficiente quando os desastres inevitavelmente acontecerem.

O voto é um passo fundamental nesse processo, especialmente porque o prefeito e os vereadores são as lideranças mais próximas das comunidades e têm um papel crucial na implementação de medidas que podem ajudar a enfrentar a realidade climática de cada local.

Não existem “desastres naturais” se políticas públicas adequadas poderiam ter evitado os piores cenários. E é exatamente isso que estamos vendo em escala global, regional e municipal. A crise climática nos obriga a implementar, com urgência, uma série de mudanças em nosso modelo de desenvolvimento, mudanças que vão desde uma transição energética global, até políticas municipais de redução de risco de desastres. Se ainda não estamos conseguindo lidar com essa situação, é justamente porque não temos lideranças comprometidas em todos os espaços de decisão.

Enquanto isso não mudar, vamos continuar vendo as mesmas manchetes a cada evento climático extremo, falando de mais um “desastre natural”, que de natural não tem nada.

Edição: Vinícius Sobreira