Na manhã deste sábado (7), a partir das 9h, ativistas e militantes de movimentos populares e organizações sindicais começam a se concentrar no Parque Treze de Maio, no centro do Recife (PE). É o Grito dos Excluídos, que há 30 anos sai no 7 de Setembro levantando bandeiras pela independência do Brasil, mas, principalmente, pedindo que a vida do povo seja colocada como prioridade.
Entre 10h e 11h, a manifestação segue sua caminhada em direção ao Pátio do Carmo, na avenida Dantas Barreto. O ato acontece em diversas cidades do Brasil. No Recife, o ato é organizado por um conjunto de militantes sociais e religiosos que se reúnem no Movimento dos Trabalhadores Cristãos (MTC).
Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, a professora Sandra Gomes, católica integrante das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e participante do Grito desde seu surgimento, há 30 anos. Ela explica que o movimento nasceu em um encontro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em um debate puxado pelas pastorais sociais, que defendiam uma fé profética e compromissada com a melhoria da vida do povo. "A vida em primeiro lugar, acima do neoliberalismo e do capitalismo", resume ela.
Após três décadas, o tema permanece o mesmo. Mas o "lema" muda todos os anos: em 2024, é "todas as formas de vida importam, mas quem se importa?". Sandra explica. "Não é só a vida humana que importa. Existe um planeta que está sendo degradado, destruído, a vida dos animais, nossos biomas", diz ela, destacando a importância que o meio ambiente e a natureza têm nas pautas de reivindicações do Grito dos Excluídos.
Na conversa, Araújo também lamenta o enfraquecimento das CEBs nas últimas décadas, engolidas dentro da igreja pelo "movimento carismático" e, fora do catolicismo, pelo crescimento do neo pentecostalismo. "Quando a religião adota um discurso fundamentalista, isso nos preocupa, porque ele vem com uma falsa moral e coloca em risco direitos sociais e individuais, atacando LGBTs e os direitos das mulheres", aponta.
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Sandra explica que as comunidades eclesiais de base seguem os preceitos do catolicismo, mas lidam de forma diferente com a sociedade. "Temos nossos princípios, mas não achamos que a sociedade toda tem que rezar a nossa cartilha. O cristianismo não defende o aborto? Ok. Mas as pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com seus corpos", defende a militante católica.
Ela conta que as CEBs estão preocupadas com as eleições municipais deste ano. "Quem vamos eleger para vereadores e prefeitos? É uma eleição muito importante, porque são os representantes públicos mais próximos ao dia a dia do povo, para resolver problemas no posto de saúde e de creche", lembra. Sobre a gestão petista no governo federal, Sandra resume. "Temos críticas ao governo Lula, mas não temos dúvidas de que ele foi a melhor opção."
Edição: Martina Medina