Pernambuco

ELEIÇÕES 2024

Em Olinda, apenas dois vereadores citam a cultura como prioridade; conheça candidatos que defendem a pauta

O BdF contabilizou 10 candidaturas à Câmara Municipal da 'capital da cultura' que destacam o tema nas suas redes sociais

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cidade conhecida por suas manifestações culturais, Olinda não tem seus fazedores de cultura representados na Câmara de Vereadores - Arquimedes Santos/ Prefeitura de Olinda

A cidade de Olinda, na região metropolitana de Pernambuco, é famosa por seus casarios históricos e por sua força cultural. O Carnaval de rua e seus blocos, os bonecos gigantes, as orquestras de frevo, os maracatus e afoxés, seus terreiros e demais centros disseminadores de cultura popular fizeram da Marim dos Caetés, como era chamada inicialmente, a primeira cidade reconhecida, em 2005, como "capital brasileira da cultura". Essas manifestações, no entanto, não têm na Câmara Municipal uma representação proporcional à sua importância.

A reportagem do Brasil de Fato Pernambuco visitou as redes sociais dos 16 vereadores de Olinda que são candidatos à reeleição e apurou que apenas dois deles citam a cultura entre suas prioridades: Vlademir Labanca (PV) e Tonny Magalhães (PSB).

O vereador Vinicius Castello (PT) não disputa a reeleição, pois é candidato a prefeito da cidade. Com o objetivo de apresentar candidaturas que têm a cultura como prioridade, o BdF entrou em contato com mais de 10 candidatos - com e sem mandato - que destacam o tema nas suas redes sociais. Conheça os depoimentos de quatro que atenderam à reportagem.

Eugênia Lima (PT)


Eugênia Lima, 40 anos, é advogada, mestra em desenvolvimento urbano e participa da vida cultural de Olinda / Tiago Calmon

"Olinda tem uma peculiaridade que é o fazer cultural, fruto do trabalho dos fazedores de cultura. É uma produção orgânica e ancestral, dos festejos do Carnaval, do frevo, da capoeira, de um povo resistente que produz cultura todo tempo. Mas essa cultura precisa de mais investimento para que gere renda para o município. A cada R$ 1 investido na cultura, voltam R$ 5 para os cofres públicos. Então investir na cultura é resgatar a ancestralidade, levar consciência e também gerar renda.

A cultura também salva vidas, porque pode ser uma alternativa de trabalho e renda para a nossa juventude, nossas mulheres. E por tabela vai movimentar outros setores, como o de costura, o pessoal do som, o comércio informal. Precisamos olhar a cultura como política pública, com planejamento, avaliação, metas e investimento."

Napoleão do MST (PT)


Napoleão Assunção, 49 anos, é radialista e comunicador popular, produtor cultural, trabalhador do "backstage" e militante do MST na área urbana / PH Reinaux

"A minha trajetória em defesa da cultura começou através da comunicação popular, divulgando artistas locais. Estive à frente do projeto No PE do Ouvido, cobrindo o Abril Pro Rock para 15 rádios comunitárias. Mas também trabalhei nos bastidores, como produtor cultural. Já estive na coordenação do Carnaval de Olinda e conheço bem o que acontece por trás dos palcos. Sou da 'galera da graxa', do som, da iluminação - a turma que faz tudo acontecer, mas que é invisibilizada.

Olinda respira cultura o ano inteiro, uma cultura que se faz nas periferias. Infelizmente esses artistas da cultura popular só são lembrados no Carnaval - e, mesmo assim, com muito desrespeito. Precisamos de mais investimento nos artistas da terra. Precisamos de leis e políticas públicas que valorizem o que é nosso. Também temos que resolver problemas antigos, como os atrasos nos pagamentos de cachês. Estamos em setembro e ainda tem gente que não recebeu."

Pai Ivo de Xambá (Psol)


Pai Ivo de Xambá, de 71 anos, é aposentado e lidera o Terreiro Portão de Gelo, no último quilombo da Nação Xambá em terras brasileiras / Paulinho Filizola

"Olinda é história viva e deveríamos ter a cultura como base da formação da nossa sociedade, através do incentivo à leitura e da criação de projetos de cultura relacionados com a educação. Também quero estimular a criação de polos culturais permanentes, para fortalecer a vida cultural da cidade além do período carnavalesco. Somos [o Terreiro Portão de Gelo, no quilombo urbano Xambá], um polo cultural importante e que estimula a cultura como forma refinada de expressão dos olindenses, do qual destacamos o nosso 'Coco de Mãe Biu', da nossa Nação Xambá."

Fabiano Cultura Sustenta (PT)


Fabiano Santos (em vermelho), advogado e presidente do Alafin Oyó, conhecido também como “Candomblé de rua”, encabeça a candidatura coletiva que tem ainda Ana Rita, Kananda Maria e Daniel Dias / Reprodução

"Fabiano é presidente do Alafin Oyo e advogado. Ana Rita é aposentada e presidente do Bloco 1900 e antigamente. Kananda é DJ e produtora cultural. Daniel é presidente do GRES Preto Velho [escola de samba]. A candidatura coletiva quer fortalecer as raízes afro-brasileiras da cidade e fomentar a cultura como instrumento de desenvolvimento social, fortalecendo a cultura periférica e comprometendo-se com a representatividade e promovendo novos talentos."

Edição: Martina Medina