Grande parte da população enxerga os políticos como figuras que defendem interesses estritamente particulares - e muitas vezes familiares - ou, no máximo, de grupos empresariais e religiosos. Mas tem sido crescente a entrada de movimentos populares e organizações da sociedade civil na disputa eleitoral, buscando garantir espaço político, voz e voto para esses coletivos nos locais de tomada de decisão.
Em entrevista recente ao Brasil de Fato Pernambuco, a deputada estadual baiana Vera Lúcia, a "Lucinha do MST", considera que os sem-terra e outros movimentos populares, diante dos retrocessos dos últimos anos, perceberam que era hora de dar um passo à frente nessa arena de disputas, para conter os retrocessos e conquistar avanços mais profundos. "Com nossos mandatos, estamos colocando esse espaço da política eleitoral a serviço dos que mais precisam, com a cara dos que mais precisam", avalia ela.
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O Brasil de Fato Pernambuco fez um levantamento de candidaturas a vereador que representam movimentos populares, ONGs e outros coletivos da sociedade civil com atuação no estado. Apresentamos aqui nove candidaturas que responderam à reportagem. Elas surgiram de demandas coletivas, como estratégias de fortalecimento de organizações e lutas populares.
Tomás do MST (PT) - Recife
"O problema que eu vou priorizar resolver é a questão da fome. E para combater a fome, vou defender a ampliação das Cozinhas Populares Solidárias e vou fiscalizar as compras que a prefeitura faz do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Também defendo a criação de uma versão municipal do programa de compra de alimentos, para estimular as hortas comunitárias em áreas urbanas."
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As candidaturas que têm a maconha como pauta central em Pernambuco
Jô Cavalcanti (Psol) - Recife
"O Recife tem uma dívida histórica com o povo negro e periférico, que constrói e sustenta a cidade, mas que sofre com a falta de infraestrutura, o abandono das áreas de risco, os deslizamentos e enchentes. Eu quero mudar essa realidade. Vou botar o povo como prioridade. Também lutarei por um 'salário social' de R$ 600 para todas as mães que são trabalhadoras informais, que merecem sustentar suas famílias com dignidade. Sou mãe e trabalhadora ambulante. Sei o que a gente sofre com a falta de apoio do poder público."
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Joelma Andrade (Psol) - Recife
"Tenho uma preocupação central com a questão da segurança pública, já que muitos profissionais atuam de forma racista e violenta contra a população negra e periférica. A vida de meu filho foi tirada por um policial. Eu lutarei para barrar o armamento da Guarda Municipal e para que tenhamos uma segurança cidadã, centrada na cultura de paz. Também lutarei por um Plano Municipal de Adaptação às Mudanças Climáticas com ampla participação social, priorizando as demandas da população mais vulnerável da cidade - os negros, periféricos e indígenas em contexto urbano."
Altamiza da Favela (PCdoB) - Recife
"A cidade sofre com a falta de investimentos adequados na saúde, na cultura e na geração de oportunidades dentro das comunidades. Tenho a proposta do 'Minha sede, minha vida', para que sejam destinadas verbas para a reforma de espaços culturais nas periferias, promovendo espaços de arte, cultura, qualificação e esporte, fortalecendo a autoestima e a identidade dos moradores das favelas. Também defendo que as creches tenham horários estendidos para que as mães trabalhadoras tenham onde deixar seus filhos com segurança enquanto estão trabalhando."
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Ofélia do MLB (UP) - Recife
"No Recife são mais de 71 mil famílias sem moradia digna. Enquanto isso, os bairros do centro da cidade estão com prédios vazios e abandonados, lojas fechadas e famílias inteiras morando na rua. Defendo que sejam desapropriados os prédios que não cumprem função social e que devem milhões em impostos. Esses imóveis devem servir a quem não tem teto. Casa para o povo. Chega de aluguel. Também defendo a construção de centros de referência para as mulheres vítimas de violência em todos os bairros."
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Nivete (PT) - Cabo de Santo Agostinho
"No nosso município temos um alto índice de mulheres que são chefes de família e não têm renda. Elas dependem do Bolsa Família e de cestas básicas para sobreviver. Por isso, lutarei por políticas de qualificação profissional para essas mulheres estarem aptas para o mercado de trabalho; por creches e berçários em horário integral, para que as mães estudem e trabalhem; e lutarei pelo fortalecimento da rede de proteção contra a violência doméstica no Cabo de Santo Agostinho."
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Edilson Sem Terra (PT) - Caruaru
"Caruaru sofre com um problema histórico de falta de água, tanto na zona rural como na zona urbana. Isso precisa ser resolvido e esse problema será a minha prioridade como vereador. Mas também luto pelo fortalecimento da agricultura familiar nas nossas zonas rurais e lutarei para que a fome no nosso município seja combatida. Essas lutas têm relação direta, porque o abastecimento de água ajudará a agricultura familiar, que, por sua vez, é um poderoso instrumento de combate à fome."
Reginaldo do MST (PT) - Petrolina
"Petrolina tem um desafio gigante, que é a desigualdade social e a fome. A riqueza da propaganda não chega para todos. São 150 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social. Hoje temos duas cozinhas solidárias, na Vila Marcela e em João de Deus. Então o combate à fome será prioridade nossa. Também vamos fortalecer a agricultura familiar, para que estejam aptas a fornecer alimentos para o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] e Pnae. Para isso, as famílias precisam de abastecimento de água. As comunidades rurais também precisam de escolas e creches, para evitar que nossas crianças façam longos deslocamentos diários."
Samuel do MST (PT) - Vitória de Santo Antão
"Um dos problemas de Vitória de Santo Antão é a mobilidade urbana e o transporte público. Atuar para resolver esse problema será prioridade para o nosso mandato. Também vamos atuar na revisão do Plano Diretor do município, buscando melhorias para o futuro das zonas urbanas e rurais. Defendo um plano de arborização urbana, para que Vitória seja mais verde. E lutarei para que 60% da merenda escolar seja da agricultura familiar, fortalecendo nossos produtores locais e garantindo comida de qualidade para as crianças e professores."
Edição: Martina Medina