De acordo com uma pesquisa divulgada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em setembro deste ano, 55% do território brasileiro está comprometido com a seca, sendo ainda mais crítica na região amazônica e nas regiões no Sudeste e Centro-Oeste do país. O estudo se baseia em imagens de satélite e aponta que esta pode ser a seca mais severa da história do Brasil, afetando a maioria dos seus rios.
As altas temperaturas e o calor extremo, que marcam o avanço das mudanças climáticas no país, têm impactos diretos na vida da população. Mas estas características não são novidade no clima do Semiárido brasileiro, localizado quase totalmente na região Nordeste.
Organizações sociais que atuam em defesa do meio ambiente e pela adaptação climática, ligadas à Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), têm apontado que a experiência da convivência com o Semiárido pode contribuir com metodologias, tecnologias sociais e experiências para o Brasil e o mundo avançarem na adaptação ao clima.
As entidades que atuam na região reivindicam participação e poder de incidência na construção da Autoridade Climática no Brasil, anunciada pelo presidente Lula, em setembro, como medida de combate aos incêndios florestais no país.
Para compreender como a convivência com o Semiárido pode apoiar a adaptação climática no Brasil e noutros países, o programa Trilhas do Nordeste, produzido pelo Brasil de Fato Pernambuco, conversou com Carlos Magno Morais, coordenador do Centro Sabiá, organização que atua com agroecologia há mais de 30 anos em Pernambuco. Magno integra um grupo de lideranças que buscam soluções climáticas junto à Fundação Rockefeller. Assista abaixo.
Magno é veterinário pela UFPB e tem mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade da Andaluzia (ESP). “As contribuições que a gente tem para essa autoridade climática são enormes. Construímos o maior programa de adaptação climática em terras secas do mundo, que é o ‘Programa 1 Milhão de Cisternas’, e hoje temos mais de 5 milhões de pessoas com água potável. Há décadas mulheres caminhavam 15 quilômetros [para obter água], crianças morriam antes de completar um ano”, diz Carlos.
O especialista, que é natural do Sertão da Paraíba, cita as transformações que ele viu e viveu. “No ano em que nasci, em 1980, morreram 10 mil crianças antes de completar um ano de idade no Sertão paraibano. Hoje, nenhuma morre devido a água contaminada. Isso é muita contribuição. Nós criamos um programa, temos uma rede de articulação e um tecido social muito potente no Semiárido”, diz ele.
Neste mês de outubro, a preocupação com a escassez de água deve se intensificar em todo território nacional. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, bacias hidrográficas devem atingir baixos níveis “extremos” e “excepcionais” de água nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.
O Trilhas do Nordeste é o programa semanal de entrevistas do Brasil de Fato Pernambuco. Ele vai ao ar sempre às segundas-feiras, às 19h45, nos canais da Rede TVT e do Brasil de Fato Pernambuco no Youtube.
Edição: Vinícius Sobreira