Pernambuco

Coluna

Que retrocesso ambiental é esse?

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Vista aérea da APA Aldeia-Beberibe, que alcança oito municípios, é cobiçada por empreiteiras e, agora, está na mira de empreendimentos militares - Agência Pernambucana de Meio Ambiente/CPRH
Por que desmatar uma área de Mata Atlântica quando há outros locais disponíveis para a construção?

Ao ler a notícia de que o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) suspendeu a liminar que impedia a construção da Escola de Sargentos, uma pergunta não saía da minha cabeça: como podemos continuar a ignorar os alertas sobre a crise climática? A decisão, que prioriza interesses econômicos e militares, coloca em risco um dos nossos maiores patrimônios ambientais: a Mata Atlântica.

Em meio à maior crise ambiental global da nossa história, decisões como essa mostram o quanto estamos falhando em ouvir o alerta que a ciência nos envia. Desmatar uma área protegida da Mata Atlântica, um bioma crucial para a biodiversidade e a regulação climática, não é apenas insensato - é perigoso! Estamos retirando mais uma peça vital do ecossistema em um momento em que deveríamos estar concentrados em restaurá-lo.

Riscos socioambientais

O TJPE autorizou a continuidade das obras do Arco Metropolitano e da Escola de Sargentos do Exército, ambas na Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia Beberibe. A decisão reverte uma liminar que havia suspendido as obras, conquista de uma Ação Civil Pública do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A ação, motivada pelo Fórum Socioambiental de Aldeia, argumentava contra o desmatamento da região, que abriga uma biodiversidade crucial para o equilíbrio ecológico local.

Com a suspensão da liminar, as construções que representam riscos ambientais foram retomadas. A área de Mata Atlântica em questão tem importância enorme para comunidades de Camaragibe e outros municípios.

É de conhecimento público que o microclima gerado por estas árvores garantem a precipitação que recarrega a barragem do Botafogo (abastecendo mais de 1 milhão de pessoas) e os rios ali presentes, assim como as fontes de água utilizadas pela população.

Com muita luta, conseguimos a redução da área atingida pelo projeto. Mas temos que afirmar que não há necessidade de desmatamento, em razão de uma área muito maior (900 hectares) já ter sido cedida por uma usina. Se há espaço para construir sem desmatar, por que ameaçar esta reserva de recursos naturais?

Arco Metropolitano

A construção do Arco Metropolitano, discutida há mais de 10 anos pelo Governo de Pernambuco, visa facilitar o escoamento de veículos produzidos pela fábrica da Jeep (Grupo Stellantis), em Goiana. A obra, com custo estimado de R$1,4 bilhão, pretende conectar Goiana ao Cabo de Santo Agostinho, melhorando a infraestrutura logística do estado. Mas a construção também afeta uma das últimas porções de Mata Atlântica na região, gerando preocupações sobre os impactos ambientais do projeto.

Escola de Sargentos

A Escola de Sargentos do Exército - que de escola não tem nada -, anunciada pelo Governo Federal para o município de Paudalho, é outro projeto controverso. Originalmente planejada para desmatar 188 hectares, um acordo foi firmado para reduzir o impacto ambiental, limitando o desmatamento a 90 hectares. Ainda assim, o impacto sobre a biodiversidade e a cobertura vegetal da APA é enorme!

O investimento para a construção da escola chega a quase R$2 bilhões e o projeto promete criar 12 mil empregos. A promessa é de avanço econômico, mas na verdade é um retrocesso ambiental. Por que desmatar justamente em um fragmento da Mata Atlântica quando há tantos outros locais disponíveis para a construção? Essa é uma pergunta que devemos nos fazer, e a resposta parece clara: interesses políticos estão à frente da preservação ambiental.

O desmatamento de áreas protegidas como a Mata Atlântica ameaça não apenas a biodiversidade local, mas também compromete serviços ambientais cruciais, como a regulação do clima e a preservação dos recursos hídricos. E isso em um momento em que o mundo inteiro sofre as consequências de uma crise climática sem precedentes. A destruição dessas áreas vai piorar os eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, que já estamos enfrentando com maior frequência e intensidade.

A sociedade, que ainda nem consegue mensurar os impactos de tudo isso, é quem vai pagar a conta que não fecha da crise climática. Pagaremos por uma minoria que, por interesses próprios, resolveram derrubar a mata para os seus filhos estudarem e se formarem sargentos do exército - que contraditório: o exército não era pra proteger nossas florestas também?

Edição: Vinícius Sobreira