Neste domingo (27), os eleitores do município do Paulista, na região metropolitana do Recife, decidem quem governará a cidade pelos próximos quatro anos. O Brasil de Fato Pernambuco buscou coletivos e movimentos populares do município para ouvir a avaliação deles sobre a disputa entre o ex-prefeito Junior Matuto (PSB) e o candidato Ramos Santana (PSDB). Nenhum se mostrou verdadeiramente identificado com algum deles, mas todos creem na vitória do tucano.
O educador Diego Rafael integra o Escambo Coletivo, grupo com atuação no bairro de Paratibe, contou ao Brasil de Fato Pernambuco que a indicação coletiva é o voto nulo. “A gente defende uma atuação voltada para o poder popular, para despertar a consciência e a necessidade de se organizar. Mas não identificamos nenhuma candidatura com essas características. Nessa conjuntura, vamos votar nulo”, diz ele.
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Perguntado sobre os candidatos, o integrante do Escambo Coletivo criticou ambos. “Se Junior Matuto ganhar, vai repetir o governo que fez no passado, do fisiologismo, da política de balcão”, fustiga. “E Ramos tem sua base na direita que apoiou Bolsonaro, conservadora e arcaica, traz Yves [Ribeiro]. Então para a gente não é interessante, não é renovação”, completa.
O coletivo, cuja atuação é direcionada ao direito à cidade, tem uma história com Junior Matuto, do período em que este era prefeito. O Escambo reivindicava a reforma da quadra do Mangueirão, deteriorada havia anos. “Do nada, Junior Matuto aprovou um projeto para demolir a quadra e fazer uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Um equívoco, porque o esporte contribui com a saúde, na prevenção”, lembra ele.
Mas não foi só. “Desconfiamos que pode ter a ver com a atuação do grupo, para tirar a nossa luta do mapa”, lembra Diego. O grupo e a gestão entraram em confronto. O Escambo Coletivo mobilizou a comunidade, Junior Matuto participou de uma assembleia popular e, por fim, a UBS foi construída no terreno e, ao lado, foi construída uma nova quadra, menor que a anterior.
Se ausentar da votação, para o Escambo, não é se ausentar da política. “Em ano eleitoral a gente faz o debate, avalia propostas, nos posicionamos. Mas de um tempo para cá estamos defendendo o voto nulo”, pontua. “E depois da eleição vamos fazer controle social, cobrar políticas públicas e diálogo com a população”, explica Diego Rafael.
O pedagogo André Fidélis integra o Coletivo Força Tururu, que atua na comunidade do Tururu, bairro do Janga. Ele conta que houve uma reunião do grupo, mas não houve consenso sobre que nome apoiar. “Não houve consenso, então não definimos o apoio coletivo. Então não promovemos debates, não fizemos porta a porta e nem emitimos comunicados na internet”, explica.
Mas ele se diz pouco esperançoso nesta disputa. “Independente de quem vença, acreditamos que pouca coisa vai avançar, sobretudo no que diz respeito às políticas sociais e ambientais”, diz André. “São muitas gestões de retrocessos, com mudanças no plano diretor para permitir condomínios e resorts, derrubando matas. E infelizmente isso não vai mudar - talvez até piore”, completa.
Já Fernando Macedo, do coletivo Salve Maria Farinha, que atua principalmente nos bairros costeiros, não quis saber de neutralidade. “Decidimos votar no candidato Ramos. Ele é alinhado com a governadora Raquel Lyra, que busca a reeleição, então Paulista pode receber mais atenção e projetos do Governo do Estado”, avaliou Macedo.
Ele afirma que o debate interno no Salve Maria Farinha prioriza a temática ambiental e a segurança de atuação do coletivo. “O candidato Junior Matuto não foi nem cogitado, porque durante sua gestão o cenário ambiental foi terrível e até hoje sofremos os impactos das mudanças no plano diretor da cidade”, conta ele. Fernando “do Salve” foi candidato a vereador pelo PSOL, partido que integra a coligação encabeçada por Junior Matuto (PSB).
Dos 235,2 mil eleitores do Paulista (dados do Tribunal Regional Eleitoral, TRE), 19,2% não foram votar, além de quase 10% que votaram branco (4,2%) ou nulo (5,6%). Isso resulta em 167 mil paulistenses (71% do eleitorado) que escolheram um candidato para prefeito.
O vento a favor do tucano
Questionados sobre quem deve ganhar a disputa no domingo, os entrevistados foram unânimes: Ramos Santana (PSDB) tende a sair vitorioso das urnas. “A rejeição ao nome de Matuto, os processos que ele está respondendo, levarão Ramos a ganhar. A população já experimentou a gestão dele na cidade e talvez esteja querendo testar outra gestão”, diz André Fidelis, do Força Tururu.
Avaliação similar faz Diego Rafael, do Escambo Coletivo. “Matuto colecionou muitos inimigos durante a gestão e ainda teve as denúncias de corrupção. Pela rejeição dele, quem vai ganhar é Ramos”, pontua.
Ramos é apoiado pelo atual prefeito Yves Ribeiro, cuja gestão é reprovada por 75% dos paulistenses; e tem apoio da governadora Raquel Lyra, cuja reprovação é de 58% da população local. Mas Matuto é, ele mesmo, rejeitado por 51,2% dos pesquisados, enquanto Ramos tem rejeição de 19,2%.
Fernando Macedo, do Salve Maria Farinha, considera que - mesmo aos 75 anos - Ramos Santana, por não ter governado a cidade, ainda consegue se apresentar como um elemento novo. “Paulista apostou na volta do prefeito Yves e isso não foi bom. Junior Matuto também é um ex-prefeito querndo voltar, com um histórico que não é bom. O fato de Ramos não ter passado pela prefeitura conta a favor dele”, diz Macedo.
Um pé em cada canoa
Nenhum dos partidos de esquerda no Paulista está apoiando o tucano Ramos Santana - ao menos não oficialmente. O PSOL está na coligação encabeçada por Junior Matuto desde o início da corrida eleitoral. E por mais que a dirigente municipal da sigla, Cleide Andrade, esteja em campanha por Matuto, o candidato a vereador mais votado, Fernando “do Salve”, deixou claro que o coletivo que ele representa optou por votar em Ramos.
A Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) acabou aderindo à candidatura de Francisco Padilha (PDT) de última hora, com o PT indicando a vice na chapa. Mas os números sugerem que a aliança não foi tão firme assim. As três siglas da federação tiveram, na disputa para vereador, 22,9 mil votos, mais que o triplo dos 6,7 mil votos de Padilha na corrida pela prefeitura.
No 2º turno as siglas declaram apoio a Matuto. A federação elegeu três vereadores: Raul (PCdoB), César Junior “Alemão” (PCdoB) e George Freitas (PT), mas nenhum dos três fez qualquer postagem em suas redes em apoio a Junior Matuto.
Já os principais candidatos da Federação que foram derrotados na corrida pela vereança acabaram aderindo à candidatura de Ramos (PSDB). Camelo do Seguro (PV), Cassiane de Iranildo (PV) e o sindicalista Sérgio Leite (PT) publicaram vídeos em apoio ao tucano. “Tive a oportunidade de conviver com Ramos na Câmara de vereadores [do Recife], depois como deputado estadual. Independente de ideologia e de partido, estou com Ramos para que Paulista saia do atraso”, declarou Leite.
Tábua de salvação
Os candidatos à prefeitura derrotados também decidiram tomar posição no 2º turno. O quatro colocado Edinho (PL), que recebeu 15,3 mil votos (9,2%), declarou apoio a Ramos. A terceira colocada, Lívia Álvaro (PP), que recebeu 15,8 mil votos (9,5%), aguardou até os últimos dias para subir no palanque de Ramos. Já Souza Vigilante (Mobiliza), candidato de 3,6 mil eleitores (2,2%), aderiu à campanha de Matuto.
Edição: Vinícius Sobreira