Somos ‘corpos estranhos’ na política, que segue racista, machista e alicerçada no poder econômico
Passadas as eleições, é hora de fazer um balanço sobre esse processo. Nem tudo é pessimismo. Comemoramos no primeiro turno o aumento de candidaturas de mulheres, pessoas negras e LGBTs. Tivemos um aumento expressivo de candidaturas LGBTIA+ eleitas em 2024. Foram 225 eleitos, um crescimento de 130% em relação a 2020.
Já em relação às mulheres negras, das quase 80 mil candidatas, 10,9% foram eleitas, mais que o dobro de 2020, quando apenas 4,5% foram eleitas. Claro que, mesmo com esse aumento, o número de candidaturas eleitas está muito abaixo do ideal. Nós somos esse “corpo estranho” na política e seguimos sendo exceções, o que demonstra o quanto o sistema segue racista, machista e alicerçado na violência e na influência do poder econômico no processo eleitoral.
Especialmente no segundo turno, em Olinda, foi triste de ver que a campanha de Vini Castello (PT) foi alvo da violência nas suas mais variadas manifestações, notadamente a homofobia, o elitismo, o racismo - enfim, violência política. Mesmo que essa violência seja estrutural e previsível, nós não podemos perder a capacidade e nos indignar com a forma desigual com que as disputas eleitorais acontecem para nós mulheres, negros e negras, LGBTs, sem berço político e vindos da classe trabalhadora.
Essa violência política de gênero e raça encontra sempre o corpo de um candidato de esquerda, que tem projeto de superação dessas desigualdades. A direita, especialmente extrema-direita, vem conseguindo renovar suas lideranças. São as velhas ideias em novas roupagens, e são eles que continuam e às vezes até intensificam o ódio contra nós como uma arma política a seu favor.
É claro que em 2022 fizemos um resgate histórico da democracia ao derrotar Bolsonaro nas urnas - mas não podemos abaixar a guarda. Nossa democracia segue sob ataque. A pouca representatividade de gente como a gente nos espaços de poder coloca a democracia em xeque. A conivência dos poderes com a violência política e a influência do poder econômico também é uma ameaça à democracia.
Os problemas para consolidar e aprofundar a nossa democracia são antigos conhecidos nossos, algo que ficou muito evidente nas eleições de Olinda neste segundo turno. Contra um eleitor sem educação política e sem direitos básicos garantidos, impera o uso da máquina para direcionamento do resultado das eleições, a violência, a misoginia, a LGBTfobia e o racismo. A eleição foi um grande mercado de dinheiro e de terrorismo moral. Perde o debate de proposta, perde a cidade, perde o povo.
É indispensável para o fortalecimento da democracia lutar contra a violência política de gênero e raça. Estaremos vigilantes, inclusive, para que cada candidatura de mulher, negros e negras e LGBTQIAPN+ possa exercer plenamente seus mandatos.
Da mesma forma é indispensável lutar pelo combate à fome, por uma educação crítica, por geração de emprego e renda para a nossa população não ficar à mercê dos novos jagunços da política e possam exercer o verdadeiro voto livre e consciente, rejeitando todo tipo de racismo, LGBTfobia e misoginia mobilizados para afastar legítimas representações do povo trabalhador.
Edição: Vinícius Sobreira