A volta de Trump acende na direita brasileira o sonho de que Bolsonaro seja anistiado e se candidate
Esta semana o mundo recebeu uma notícia triste: a reeleição de Donald Trump. Aqui não entrarei no mérito de debater as diferenças e semelhanças entre ele e Kamala Harris, mas vou focar no que afeta a nós, brasileiros. A reeleição de Trump pode abrir tempos sombrios para a América Latina e para o Sul Global de maneira geral.
A reeleição de Trump é mais do que a volta à presidência de um bilionário que ficou conhecido por mentir abertamente em todas as oportunidades. É a volta de um presidente que foi condenado por ter comprado o silêncio de uma ex-atriz pornô antes das eleições de 2016 e que inclusive está sendo investigado por incitar a invasão do Capitólio em 2020, que resultou em 5 mortes. Como um investigado por atacar a democracia consegue se candidatar à presidência? Pior: como ele se elege?
A principal proposta de Trump é fechar as fronteiras do país. Uma ação xenofóbica, atrasada e economicamente impensada, porque os latinos, escolhidos por ele como “inimigos”, representam sozinhos quase 20% da força de trabalho do país, fazendo inclusive o trabalho pesado que os estadunidenses se recusam a fazer. Um em cada 5 estadunidenses tem origem latina e eles injetam US$ 2,8 trilhões na economia dos EUA por ano. A única justificativa para esse ódio é a xenofobia.
No discurso da vitória, Trump disse que “amava” Elon Musk. Sim, Elon Musk. O dono do X/Twitter que vive atacando a democracia brasileira e que já disse “vamos dar golpe em quem quisermos” - sobre seu interesse em derrubar o ex-presidente Evo Morales, da Bolívia, para ter acesso a lítio. Esse é o lado de Trump: o do golpismo e intervencionismo para manter as altas taxas de lucro do mercado.
Além da xenofobia, o governo Trump foi também o governo das fake news. Na sua primeira campanha, 70% das declarações dele foram mentira e nos primeiros 40 dias do seu governo ele mentiu todos os dias! Já nessas eleições, Trump seguiu sua trilha de mentiras: acusou imigrantes haitianos de comerem animais de estimação e plantou, ontem mesmo, uma mentira transfóbica contra a argelina Imane Khelif.
Certamente o nosso cenário seria ainda pior caso Bolsonaro tivesse sido reeleito, porque ele é fã de carteirinha de Trump e imitava, no Brasil, tudo que o estadunidense fazia lá. A influência é tão grande que figuras como Eduardo Bolsonaro e Gilson Machado foram aos EUA para o 2º turno das eleições.
Ainda que a vitória de Lula em 2022 tenha freado a escalada fascista no Brasil, precisamos nos manter mobilizados contra o fascismo e o crescimento da extrema-direita.
A volta de Trump já acende nos bolsonaristas a esperança de que Bolsonaro possa ser anistiado, e assim, volte a se candidatar. Três projetos de lei que anistiam Bolsonaro e os golpistas do 8 de Janeiro estão andando lá no Congresso. Essa é a luta que os bolsonaristas vão fazer agora, para tentar garantir Bolsonaro na disputa em 2026. O que aconteceu nos Estados Unidos não pode acontecer aqui.
O governo de Trump pode ser um grande laboratório do que a direita mundo afora vai tentar fazer em seus países. Aqui, como temos um presidente comprometido com a democracia e o povo, esse risco é menor, mas precisamos nos manter atentas, porque os conservadores no legislativo e nos governos estaduais podem querer replicar à brasileira os retrocessos do governo Trump.
A nós, da esquerda, cabe mantermos os olhos bem abertos e seguir cumprindo nossa tarefa principal dessa conjuntura, que é combater o conservadorismo e o fascismo.
Edição: Vinícius Sobreira