Os envolvidos na trama devem ser punidos. Perdoar e esquecer são incentivos para que tentem de novo
Os relatórios da Polícia Federal (PF) apontam o que todo mundo já sabia: Bolsonaro não respeita as instituições. Ao que parece, ele liderou a organização criminosa que planejou um golpe de Estado no Brasil e a morte do presidente Lula. Isso é gravíssimo e não pode ser tratado com naturalidade! O primeiro escalão do antigo governo, depois de ter sido derrotado nas urnas, tramava um golpe para não deixar o poder. E Bolsonaro não só sabia de tudo, como ajudou a organizar.
Quando digo que todo mundo já sabia, é porque o histórico golpista de Bolsonaro e dos militares já é conhecido por nós. Eles exaltam o golpe de 1964, debocham das vítimas da ditadura, reprimiram fortemente os atos pela democracia durante o desgoverno Bolsonaro, soltavam vários “apitos de cachorro” para grupos neonazistas e, até o último dia de governo, Bolsonaro botava em xeque o resultado das eleições da qual saiu derrotado. Era uma forma de animar suas bases golpistas e criar a narrativa para o golpe, que - graça a vários fatores - felizmente foi frustrado.
Agora, o que a gente não sabia e descobrimos com o relatório final da investigação da PF sobre a tentativa de golpe em 2022, é a gravidade da trama golpista, que poderia ter terminado muito mal. Inclusive, ela começou antes do 8 de janeiro. Após o resultado das eleições, os acampamentos em quartéis já eram uma semente do golpe, onde as bases bolsonaristas se mantinham inflamadas e incentivando os militares.
Fora isso, ainda tivemos a explosão de bombas no aeroporto de Brasília, tentaram ocupar e bloquear refinarias da Petrobras e provocaram a derrubada de nove torres de transmissão de energia elétrica no Paraná, São Paulo e Rondônia, com a tentativa de provocar um verdadeiro apagão elétrico e de abastecimento no país. O objetivo era criar uma situação de caos que justificasse a entrada dos militares com um golpe e a “abolição do Estado Democrático”, como dizem os juristas.
Depois de tudo isso, o 8 de janeiro era o “Dia D”, que felizmente não deu certo porque já estávamos sob Governo Lula. Mesmo com a recusa de setores militares de impedirem os atentados em Brasília, o governo conseguiu agir a tempo e prender boa parte dos golpistas. No legislativo, a CPI do 8 de Janeiro investigou com mais profundidade o que aconteceu no dia e, agora, a PF revelou os pormenores do golpe, para que sejam investigados, julgados e punidos os responsáveis por esse atentado que enterraria a nossa democracia.
A nós, da esquerda e das forças populares e democráticas, não cabe fazer um balde de pipoca e esperar que Bolsonaro seja preso em transmissão ao vivo. Temos uma tarefa para esse momento político: manter a mobilização para que Bolsonaro e seus 36 comparsas sejam devidamente julgados e punidos pelos crimes que cometeram, e mais, evitar que os golpistas do 8 de janeiro sejam anistiados. Todos os envolvidos nessa trama do golpe devem ser responsabilizados, porque o perdão e o esquecimento desses crimes pode incentivá-los a tentar de novo.
E, para que essas mobilizações tenham sucesso, a nossa sociedade precisa estar bem organizada. E quando digo organizada, é dentro das organizações populares: em movimentos, coletivos, sindicatos e onde mais o povo puder se organizar para combater o fascismo e impor uma derrota política a Bolsonaro e ao bolsonarismo. Sem isso, não iremos avançar na reconstrução do Brasil e no fortalecimento da nossa democracia.
Edição: Vinícius Sobreira