Pernambuco

CULTURA E POLÍTICA

Com sessão gratuita no São Luiz, filme mostra mobilização de mulheres rurais contra o governo Bolsonaro

“O Canto das Margaridas” será exibido na sessão de abertura de festival de cinema na capital pernambucana

Recife (PE) |
Cena do documentário O Canto das Margaridas, produzido pelo Coletivo Mulheres no Audiovisual de Pernambuco - MAPE/divulgação

Na noite desta sexta-feira (29), tem início o Festival Internacional de Cinema de Realizadoras (veja a programação aqui), que este ano acontece no tradicional Cinema São Luiz. O filme escolhido para a sessão de abertura foi o pernambucano “O Canto das Margaridas”, que mostra a mobilização de mulheres urbanas e principalmente rurais para a Marcha das Margaridas de 2019, que reuniu milhares delas num protesto reivindicando direitos e criticando o governo de Jair Bolsonaro.

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A sessão no São Luiz tem início às 19h. O primeiro filme da noite é o curta “Fala Sincera”, uma videocarta de 9 minutos da diretora indígena Yacewara Pataxó dirigida a sua mãe. Em seguida tem início a exibição d’O Canto das Margaridas, que terá sua primeira sessão em terras pernambucanas. O filme é dirigido e produzido pelo coletivo Mulheres no Audiovisual de Pernambuco (MAPE).

A equipe de produção destaca que o filme vai além do registro factual. O longa apresenta as personagens pernambucanas com suas dores e sonhos, a relação delas com a organização coletiva e com o feminismo, fortalecendo-as em sua urgência por um mundo mais justo para todas e todos. O filme traz imagens de Marta Almeida e sua relação cuidadosa com outras mulheres. A militante social da luta do povo negro de Pernambuco faleceu em setembro de 2023, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).

Para a sessão desta sexta-feira, o Festival de Realizadoras (Fincar), em parceria com movimentos feministas do campo e da cidade, garantiram transporte para levar ao São Luiz cerca de 100 mulheres da região Agreste e da Zona da Mata do estado. São esperadas mulheres de Caruaru, Gravatá, Garanhuns, Surubim, Casinhas, Angelim e Lagoa do Carro, além de mulheres da Região Metropolitana (Recife, Olinda e Jaboatão).

Na noite da terça-feira (3), quando o Fincar chega ao Cine São José, em Afogados da Ingazeira, o público sertanejo também poderá assistir a’O Canto das Margaridas, a partir das 19h. Em 2023, durante a Marcha das Margaridas, o filme foi exibido pela primeira vez, ainda inacabado.

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O MAPE afirma que no ano de 2019, diante de um governo de extrema-direita, misógino e que criminalizava abertamente as pautas dos movimentos populares, a Marcha das Margaridas daquele ano se tornou um símbolo das lutas das mulheres trabalhadoras. Este cenário motivou o coletivo a se engajar nos registros de imagens documentando a organização das pernambucanas para a marcha.

A Marcha das Margaridas

A manifestação é realizada a cada quatro anos (no primeiro ano de cada novo governo), sempre no mês de agosto, levando ao centro do poder político nacional as vozes e demandas de milhares de trabalhadoras rurais em sua diversidade - agricultoras familiares, quilombolas, indígenas, ribeirinhas. O nome da marcha é uma referência a Margaria Maria Alves, líder sindical rural da Paraíba, assassinada em 1983 devido ao incômodo que sua atuação trazia aos latifundiários locais. Até hoje ninguém foi responsabilizado por executar ou financiar este assassinato.

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MAPE - O coletivo Mulheres no Audiovisual de Pernambuco surge em 2016, num contexo de embates e ameaças de retrocessos políticos, diante da possibilidade iminente de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT). Por entenderem que o audiovisual também é um território de disputas, diversas trabalhadoras do setor se uniram para demandar relações equânimes tanto no mercado cinematográfico como na sociedade.

Ao longo destes oito anos, o grupo realizou formações técnicas e políticas, produziu conteúdos, contribuiu com lutas em defesa de políticas públicas para a cultura e por maior representatividade no cinema.

Após alguns curtas, este é o primeiro longa-metragem do MAPE, que contou com a colaboração de movimentos populares parceiros que emprestaram equipamentos, profissionais que realizaram capacitações visando contribuir com a produção e edição do filme, artistas que doaram obras para leiloar e indivíduos que contribuíram com o financiamento coletivo. “Uma ciranda de muitas mãos, que mostrou o poder dessa união”, diz o comunicado do MAPE enviado à imprensa.

O filme tem imagens de Bruna Leite, Cecília da Fonte, Márcia Rezende, Eduarda Galvão, Lara Bione e Uilma Queiroz, Ana Paula Rabelo, Emília Silberstein, Maíra Carvalho e Rafael Lobo - muitas das quais também contribuíram noutras etapas da produção. Montagem, edição de som, finalização de imagem e argumento contaram ainda com Roberta Cardoso, Mari Moraga, Déa Ferraz, Gabriela Alcântara, Laíse Queiroz, Maria Samara, Milena Times, Martha Suzana, Germana Glasner, Camila Góes e Nathália Gomes.
 

Edição: Vinícius Sobreira