Nesta quinta-feira (5), ainda em meio às revelações da Polícia Federal sobre a trama golpista da cúpula das Forças Armadas, a banda pernambucana Devotos lançou seu novo single “Vladimir Herzog”, em homenagem ao jornalista torturado e morto pelo regime militar em 1975. A homenagem, segundo a banda, se dá por Herzog acreditar na arte enquanto instrumento de conscientização, politização e libertação. A música já está disponível em todas as plataformas de streaming.
A letra traz versos como “eu acredito na arte para te fortalecer, (...) eu acredito que a arte, a arte salva”, em referência à dedicação de Herzog ao trabalho desenvolvido à frente da TV Cultura. “Vladimir Herzog é símbolo de uma época em que todo mundo tinha medo, mas ele não se calava”, diz Cannibal, reforçando que se identifica com as ideias e atuação do jornalista. A Devotos, nascida no Alto José do Pinho, é uma banda símbolo do punk rock e do hardcore nacional, além de reconhecida como Patrimônio Cultural do Recife.
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O vocalista lamenta que estejamos, hoje, “testemunhando a volta de aspectos culturais da ditadura, chegando pela internet e ganhando espaço na cabeça de adolescentes”, diz ele. “Precisamos lembrar e exaltar pessoas que lutaram pela nossa democracia, como Vladimir, apresentá-las aos nossos jovens, para que a mentira e a violência não ganhem mais terreno”, diz Cannibal. Ouça abaixo.
O músico lembra que a censura afeta diretamente as populações marginalizadas, porque são elas as que mais precisam lutar para conseguir direitos. “A gente que é de periferia, a gente que é negro, estamos sempre tendo que provar ou reivindicar alguma coisa para poder ter nosso lugar e nosso reconhecimento. Temos a resistência entranhada na gente”, destaca Cannibal.
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A música, lançada pelo selo Red Star, tem composição de Cannibal e melodia de Celo Brown, Neilton e Cannibal. A letra diz que “os anos são de chumbo, não há presente e nem futuro, só a maldade do fascismo, Vladimir Herzog derruba o AI-5”, em referência ao Ato Institucional nº 5, símbolo da censura e do cerceamento de direitos aplicado pelo regime militar.
A morte do então diretor da TV Cultura, apresentada pelos militares como suicídio numa cena montada, em que a vítima aparece supostamente enforcada com seu cinto, mesmo com metade do corpo tocando o chão. A morte é apontada por alguns historiadores como o “início do fim” do regime. Anos depois, o legista que assinou o laudo apontando a causa mortis admitiu que precisou assinar o documento sem sequer ter analisado o corpo. A Justiça brasileira condenou a União pela morte de Herzog.
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Edição: Vinícius Sobreira