Quem circulou pelo campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz, entre os dias 11 e 13 deste mês, percebeu o som do rádio e as cores do Simpósio de Comunicação da Região Tocantina (Sincom) tomando conta do ambiente. Não é algo estranho para quem estuda por lá. Há 18 anos o curso de jornalismo da instituição organiza o evento, que engaja centenas de estudantes da região. O simpósio é aberto ao público este ano recebeu cerca de 300 inscrições.
Entre a apresentação de artigos e produtos jornalísticos, o Brasil de Fato Pernambuco participou com a sua experiência do programa de TV Trilhas do Nordeste. O nosso produto de comunicação audiovisual mereceu espaço na mesa de abertura do evento, na noite da quarta-feira (11).
O tema do simpósio - “jornalismo cultural e independente” - inspirou toda a agenda dos três dias, que também contou com a presença de veículos e iniciativas como a Marco Zero Conteúdo (PE), o site Farofará (MA), o Guia Negro (BA), a Agência Mural (SP) e a Alma Preta (SP).
Assista a edição mais recente do Trilhas do Nordeste.
A programação do simpósio contou com apresentações culturais, minicursos e oficinas que traziam desde a produção de conteúdo para internet até o tema da cartografia cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão. Também foram apresentados artigos científicos e conteúdos produzidos pelos estudantes, que concorreram a premiações.
Helena Dias, do Brasil de Fato Pernambuco e do Coletivo Tejucupapos de Comunicação Popular, ministrou a oficina “A comunicação como pilar da captação de recursos para organizações” e coordenou uma das salas da mostra de produtos jornalísticos.
“Estamos acostumados com eventos com protagonismo do corpo docente, dos professores, mas não foi o que encontramos aqui em Imperatriz. Me inspirei na participação dos estudantes, que estavam engajados em fazer o simpósio acontecer e apresentar as suas produções científicas e jornalísticas. Se o jornalismo sempre fosse tratado com esse compromisso, viveríamos realidades melhores na profissão”, diz Helena Dias.
Segundo o professor e um dos coordenadores do evento este ano, Alexandre Maciel, o simpósio cumpre o papel de reunir reflexões e fazeres do jornalismo presentes nos estados do Maranhão, Tocantins e Pará para um intercâmbio com outras experiências do Brasil.
“Surgiu a necessidade de debatermos a importância do jornalismo independente, compromissado e não financiado por fontes tradicionais. Ao mesmo tempo, debater um jornalismo mais caracterizado por ações locais e focadas, sobretudo, nos Direitos Humanos e na pluralidade de vozes”, diz Alexandre Maciel.
“A parte cultural veio para chamar atenção da importância de se registrar manifestações locais na sua realização e memória. Isso se fez presente nas mesas, em que trouxemos vários jornalistas de renome, que trouxeram diversos aspectos dessa questão”, completa, explicando o tema do simpósio.
Em 2016, o SINCOM passou a ter maior projeção nacional e, com isso, mais investimentos. Este ano, teve fomentos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, e da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).
Engajamento estudantil
Cidade fronteiriça do Maranhão, Imperatriz é banhada pelo Rio Tocantins e reflete uma identidade que une Norte e Nordeste do Brasil. A universidade, o curso e o simpósio demarcam esse posicionamento com o termo “região tocantina”. Mas o que chama mesmo atenção é o forte engajamento de quem estuda por lá, assumindo as funções de produção do evento, monitorias e outras.
“Foi o meu primeiro SINCOM e eu conheci coisas que não imaginava, coisas que a mídia tradicional não mostra. E é esse rumo que eu quero seguir e é onde me vejo trabalhar. Quero me aprofundar em pautas mais humanas. Muitas vezes, o jornalismo conta histórias das pessoas de maneira muito mecânica”, relata Sabrina Feitosa, de 28 anos, estudante do 1º período do curso de jornalismo.
Apesar de já estar próxima de concluir a graduação, Elisangela Almeida, de 21 anos, mostra que a experiência do SINCOM continua sendo importante. “Os trabalhos que os estudantes fazem no curso podem ser compartilhados, como aconteceu na mostra de produtos. É bom saber que as histórias locais que estão contando vão ser conhecidas por outras pessoas”, diz Almeida, que está no 6º período.
É neste contexto que se ambienta também o Zine Sibita, um projeto que começou há mais de 10 anos como fanzine e hoje produz conteúdo cultural no meio digital. No pátio da UFMA, foi possível acessar uma sala imersiva, que trazia a experiência dos mercados locais e uma exposição de fotos dos estudantes. O tema do próximo SINCOM será “Comunicação e Amazônia”.
Edição: Vinícius Sobreira