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Que bom que ainda estamos aqui! Vamos sorrir e precisamos dar as mãos

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Fernanda Torres foi eleita a maior atriz de drama do mundo entre filmes lançados em 2024 - Robyn Beck / AFP
A conquista do Globo de Ouro revela que somos muitas pessoas orgulhosas de si, verdadeiras patriotas

O quão poderosos são esses momentos de comoção coletiva? A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres foi seguida de inúmeras manifestações em comemoração e também por incontáveis análises sobre a importância do feito. Importância para a cultura e o cinema nacional, importância para a valorização das mulheres em nossa diversidade, importância para a defesa da democracia a partir do resgate da memória.

Nossa quadra histórica é muito desafiadora, com o avanço de ideias fascistas em todo o mundo. Momentos como a vitória no Globo de Ouro são um grande suspiro coletivo de quem nutre os ideais progressistas: que bom que ainda estamos aqui. 

Natália Bonavides, em entrevista recente, falou acertada e belamente sobre a necessidade de reencantar a política. A gente resgata de Paulo Freire o esperançar: esperança como ato. A comoção vivida no último dia 6 de janeiro me fez pensar que nosso reencanto e esperança tem no encontro de corações e mentes um alicerce. É no encontro de corações e mentes que podemos ancorar nosso reencanto e nossa esperança.

Aqui opto pela palavra “encontro” no lugar de “conquista”. Este momento em que o debate público é permeado de uma autogentileza - num olhar para si, enquanto Brasil, e sem perder de vista nossas contradições, colocamos mais relevo sobre as nossas belezas e potencialidades - é revelador de que somos muitas pessoas, brasileiros e brasileiras, orgulhosas de si, verdadeiras patriotas, imbuídas de valores democráticos, de liberdade e de dignidade. Precisamos nos encontrar mais.

A gente ainda sente a fragmentação das lutas populares, a dificuldade da retomada de grande ciclos de luta (algo que se faz nas ruas, algo massivo, incontornável e que resulta em conquistas reais para o nosso povo). Desafiadora também é a arena da batalha das ideias, com uma internet sem lei e um modelo de comunicação hegemônico que favorece a ideias liberais onde a passividade diante das notícias convive com o culto ao individualismo e à meritocracia.

Diante deste cenário, é mais importante ainda que nós, enquanto forças populares organizadas, valorizemos e saibamos dialogar com momentos como este, em que uma alegria de ser brasileiro nos encontra. A alegria é tecnologia de confundir os inimigos, é reafirmação da justeza da nossa luta e de tudo que não se pode comprar ou matar. O sorriso é insubmisso, ele denuncia, é ousado, é cheio da crença do poder da ação coletiva para a mudança.

A partir da comoção e da alegria coletiva em torno do prêmio para uma brasileira trabalhadora da cultura, que interpretou uma lutadora pela memória, verdade e justiça no Brasil, que a partir desse sentimento possamos nos reencontrar uns aos outros, sorrir e dar as mãos na luta organizada por um Brasil justo e soberano, colocando a luta pela defesa da democracia na ordem do dia.

Edição: Vinícius Sobreira