O anúncio do Hamas, na última segunda-feira (10), de que vai suspender a libertação de prisioneiros capturados nos ataques de 7 de outubro, voltou a aumentar a tensão na Faixa de Gaza, que pode ver o acordo de cessar-fogo fracassar no próximo fim de semana. Outros três prisioneiros israelenses seriam libertados no sábado (15), mas, segundo o grupo palestino, Israel está atacando as pessoas que tentam voltar para o norte de Gaza.
O retorno da população palestina deslocada à força de Gaza durante os ataques de Israel é um dos termos do cessar-fogo. Israel afirmou que o anúncio do Hamas é uma violação completa do acordo. E o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que se mais reféns israelenses não forem libertados até o meio-dia no sábado, o cessar-fogo será cancelado. A expressão que Trump usou pode ser traduzida como "o inferno vai explodir" em Gaza.
Segundo Arturo Hartmann, pesquisador do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe (Caei-UFS) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-Ineu), muito provavelmente o acordo será quebrado. Ele argumenta que um dos motivos é que o acordo já era frágil quando foi firmado, ainda no fim do governo do ex-presidente estadunidense, Joe Biden. Os Estados Unidos foram um dos mediadores da trégua.
"O cessar-fogo já era frágil no sentido de você pensar nas partes que compunham ele, principalmente Israel. E aí o que talvez segurasse foi essa coisa do fim do governo Biden, que apesar de ter dado retaguarda financeira e militar pro genocídio na Palestina, ele também teve que manter, não pôde deixar desmoronar a ordem – muita gente acusava, inclusive, de hipocrisia. O Trump não se importa com isso, obviamente", diz Hartmann.
"Você convencer os militares dos Estados Unidos a agirem sobre Gaza e tomarem Gaza, me parece ser um fato muito surreal e irreal. É uma situação que não vai acontecer. Agora o fato prático – e aí sim é que ele dá sinal verde a Israel –, o cessar-fogo, era baseado muito fragilmente, até porque o plano original de Israel era a destruição do Hamas, a recolonização de Gaza, colocar novos colonos em Gaza, ter o controle sobre o território não só por fora, não só como o cerco que acontece desde 2007, mas agora de novo internamente."
Uma eventual quebra do cessar-fogo é de interesse do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, argumenta Arturo. Para o analista, Netanyahu precisa seguir com a violência em Gaza para sobreviver politicamente. Uma ajuda já teria sido a eleição de Trump nos EUA.
"O que o governo Biden teve que lidar é ao mesmo tempo essa coisa da estratégia política, da aliança com Israel e dos interesses imperiais dos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo e domesticamente também um nível de solidariedade aos palestinos que não foi pequeno e foi relevante. Não ao ponto de interromper o genocídio, mas ao mesmo tempo de pressionar que os Estados Unidos junto com outros países árabes precisassem negociar esse cessar fogo", contextualiza.
"Mas era muito frágil, até porque do lado israelense, não só pela questão do projeto em si do estado étnico e colonial, mas a conjuntura política do Netanyahu de sobrevivência política demanda que ele continue exercendo a violência. Ele também está frágil politicamente no campo doméstico israelense. E o Trump, tirando a possibilidade dele transformar aquilo no resort, que eu acho que é irreal, na prática desmonta talvez o único pilar que sustentava esse cessar-fogo, que é o patrono de Israel, o grande aliado de Israel, pressionando 'ah não, mantenha o cessar-fogo'. Com a eleição do Trump, isso desmoronou."
A entrevista completa está disponível na edição desta quarta-feira (12) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Thalita Pires
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