'BOM DEMAIS'

'Frevo Michiles': filme revisita trajetória de um dos compositores mais vibrantes de Pernambuco

Jota Michiles se consagrou como autor dos principais sucessos do Carnaval, criando um estilo próprio de frevo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Autor de frevos como "Diabo Louro" e "Bom Demais" agora tem trajetória contada no cinema - Amanda Guimarães

Eletrizante, frenético, vibrante. Essas são algumas das definições possíveis para o frevo feito por Jota Michiles, um dos mais importantes compositores brasileiros. 

Michiles é autor de sucessos do carnaval pernambucano e já foi gravado por intérpretes como Alceu Valença, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Chico César e Naná Vasconcelos. O seu estilo, de tão marcante, acabou por definir um tipo de frevo. 

Agora, toda essa trajetória ganha o cinema, com o filme Frevo Michiles, com direção de Helder Lopes. A obra entra em cartaz nesta quinta-feira (13) no Cinema da Fundação e no Cinema São Luís, no Recife, e em outras cidades pelo país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Maceió, Aracaju, Garanhuns e Caruaru.

"Esse filme cumpre alguns papéis, em algumas diferentes camadas. Uma delas é a possibilidade de circular com o próprio Michiles, vendo a sua história na tela, sendo aclamado, sendo reconhecido, tendo a sua carreira de certa forma sintetizada, de alguma maneira, pelo o nosso olhar. É, de certa forma, um registro, uma salvaguarda, e ele está presenciando isso. Existe também o outro nível disso, que é a garantia de que essa história segue existindo, independente das condições do tempo e espaço que vão limitando essa possibilidade que cada um de nós tem de contar a sua própria história", apontou Helder. 

O documentário coloca em perspectiva como funciona o processo criativo de Michiles, revisita momentos marcantes da carreira, evidencia o trabalho do compositor e traz à tona também a intimidade dele com a família. 

Gravado em 2021 e premiado em festivais como o Cine PE, Frevo Michiles joga luz sobre a originalidade e a poética do frevo de Jota de Michiles. 

Helder destaca que, como folião, sempre ouviu e foi influenciado pelos frevos de Michiles. Após a pesquisa para o filme, descobriu outras camadas desse estilo frenético, vibrante e eletrizante, com letras que narram experiências cotidianas. 

"As músicas de Michiles são músicas que a gente escuta o tempo inteiro, o tempo todo, toda hora, no Carnaval. E me marcou muito essa coisa desses personagens, esse colorido todo desse universo fantástico. As músicas dele, como Vampira e Diabo Louro", trazem esse lugar onde todo mundo se encontra", conta 


Jota Michiles e Helder Lopes, durante as gravações do filme, em 2021 / Amanda Guimarães

Um criador de sucessos 

Em uma entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, em sua casa no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, Michiles relembrou das origens e contou sobre o que geralmente lhe inspira na hora de compor os frevos. 

"Eu fui menino ouvindo o frevo. Era o que mexia comigo, era o que bolia comigo. Esse ritmo alucinante, eletrizante", conta. 

Com os dedos batucando a mesa, relembra ritmos, melodias, simula o sopro dos metais e balança o corpo com a mesma energia das suas composições. "Às vezes, me acordo na madrugada para escrever uma frase melódica, literária, para gravar, para não esquecer, e o frevo nasce, assim, espontaneamente".

O rádio teve uma influência direta nessa formação, onde ouvia o baião de Luiz Gonzaga e a embolada de Jackson do Pandeiro. 

"Eu também ouvia nas ruas os emboladores, os vendedores, com seus pregões matinais, logo cedo. Eu ia empolgado com as emboladas, muitas vezes eu saia correndo atrás pra ouvir, até que eu ouvia o grito de minha mãe: 'vem embora, menino!' E eu voltava", conta.

Animado com a estreia do filme, Michiles está satisfeito ao ver a história ser registrada no cinema. Admirado com a velocidade do tempo, relembra as premiações nos festivais, a alegria de ter um frevo como um dos mais tocados no Carnaval e sentencia: 

"Tudo é um muito gratificante. Para um autor que é eternamente garfado nos seus direitos, o que é gostoso é isso: você fazer a sua música, na sua intimidade, na sua solidão, e de repente ver um milhão e meio de pessoas no Galo da Madrugada cantando, né? E isso é bom demais". 

Edição: Thalita Pires