A plataforma vai na contramão do modelo comercial, que define o que merece ou não ser visto
Na segunda-feira (10), durante a audiência pública sobre a regulação das plataformas de streaming no Brasil, muito se falou sobre a necessidade de equilibrar o mercado audiovisual. Enquanto os gigantes do setor monopolizam o espaço e ditam suas próprias regras, o cinema independente segue em busca de brechas para existir e alcançar seu público. Mas, enquanto esse debate acontece, algumas iniciativas já estão abrindo caminho para uma distribuição mais diversa e acessível. A Todesplay é uma delas.
Criada em 2020 pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan), a plataforma vai além de um simples catálogo de filmes e séries: ela propõe uma nova lógica de distribuição, na contramão do modelo comercial que define o que merece ou não ser visto. Seu compromisso é dar visibilidade a realizadores negros, indígenas, LGBTQIAPN+ e outras vozes frequentemente marginalizadas no circuito tradicional, transformando-se em um espaço de resistência e afirmação. Mais do que um serviço de streaming, a Todesplay é um território onde histórias que raramente chegam às grandes telas encontram um público disposto a escutá-las.
E essa proposta já cruzou fronteiras. Desde sua fundação, a Todesplay recebeu 55 mostras e festivais, consolidando-se como um polo para filmes independentes. Em 2024, sua presença se expandiu para 74 países nos cinco continentes, provando que há um público global interessado no cinema brasileiro – desde que ele tenha a chance de circular.
Seu catálogo reflete essa potência. Com mais de 200 títulos cuidadosamente selecionados, a curadoria da plataforma foge das armadilhas dos algoritmos que reduzem o cinema a fórmulas prontas. Aqui, cada filme carrega não apenas sua estética e sua narrativa, mas também a força de um audiovisual que busca criar novos imaginários e expandir horizontes.
Se cinema é identidade, memória e disputa de espaço, a escolha do que assistimos também pode ser um ato político. E talvez essa seja a melhor forma de começar: explorando um acervo que não apenas entretém, mas também amplia nossa percepção sobre o mundo e nos lembra da potência das histórias que contamos.
A curadoria da Todesplay trouxe uma lista de filmes para você conhecer melhor a plataforma, para assistir basta entrar todesplay.com.br e escolher o plano que funciona melhor pra você.
Filmes premiados
Esse amor que nos consome – Dir. Allan Ribeiro
Um filme de dança com uma fotografia deslumbrante que mergulha nos bastidores do trabalho e da vida de um grupo de artistas negros no Rio de Janeiro. Uma experiência sensorial e poética que conquistou prêmios em festivais como Brasília e Vitória.
A Velhice Ilumina o Vento – Dir. Juliana Segóvia
Um olhar delicado e emocionante sobre a velhice e os laços que atravessam o tempo. Uma obra sensível, recomendada para todas as idades, mas que fala especialmente ao coração das pessoas 60+.
Jussara (Animação) – Dir. Camila Ribeiro
A história de uma senhora que vive em um lugar onde os sonhos se entrelaçam com a realidade. Com uma estética envolvente e um roteiro premiado, essa animação é uma verdadeira joia do cinema independente.
Utopia – Dir. Rayane Penha
Uma reflexão cinematográfica sobre os sonhos e possibilidades de transformação, convidando o espectador a imaginar outros futuros possíveis.
Pedagogias da Navalha | Se a palavra é um feitiço, minha língua é uma encruzilhada – Dir. Alma Flora, Colle Christine e Tiana Santos
Um filme que traz a força da palavra como resistência e encantamento, unindo poesia, corpo e identidade.
Produções Internacionais
Kabadio - O Tempo Não Tem Pressa – Dir. Daniel Leite (Senegal)
Um documentário tocante que nos leva até a pequena aldeia de Kabadio, revelando os ritmos e filosofias de uma comunidade que vive em harmonia com a natureza e o tempo.
Caribbean Fantasy – Dir. Johanne Dolores Gómez Terrero (República Dominicana)
Um retrato íntimo e realista das desigualdades sociais e das relações humanas na República Dominicana, explorando os contrastes entre luxo e precariedade em meio às águas do Caribe.
Tempo Zawose – Dir. Lwiza Gannibal (Tanzânia)
A música tradicional africana encontra novas interpretações neste documentário vibrante que apresenta a arte e o legado do músico Hukwe Zawose.
Erês do Mundo
Fábula da Vó Ita – Dir. Joyce Prado e Thallita Oshiro
Uma animação afetuosa e cheia de cores que resgata a tradição oral e as histórias contadas pelas avós, encantando crianças e adultos.
O Véu de Amani – Dir. Renata Diniz
A jornada de uma menina muçulmana em sua busca por identidade e pertencimento, trazendo um olhar delicado sobre diversidade cultural e respeito às diferenças.
Destaques do Cinema Brasileiro
O Dia de Jerusa – Dir. Viviane Ferreira
Um encontro entre gerações transforma uma tarde aparentemente banal em um mergulho nas memórias, afetos e ancestralidades das mulheres negras.
Entreturnos – Dir. Edson Ferreira
Um suspense psicológico que nos convida a explorar os caminhos e desencontros de um grupo de personagens interligados pelo acaso.
Matinta – Dir. Fernando Segtowick
Inspirado no folclore amazônico, o filme traz o mistério e a magia da lenda da Matinta Pereira, figura enigmática que ronda as noites da floresta.
*Por Ana Caroline B e Rafael Ferreira, curadores da plataforma Todesplay.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Martina Medina
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