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'Voçoroca': cidade no Maranhão decreta estado de calamidade pública por avanço de erosão que ameaça 1,2 mil pessoas

Buriticupu registra esse fenômeno geológico pelo menos desde 2014, mas situação se agravou em 2023

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Voçoroca atinge região há mais de 10 anos, mas situação piorou recentemente - Nelson Almeida/AFP

Localizada a 400 quilômetros da capital São Luís, a cidade de Buriticupu (MA) decretou estado de calamidade pública por conta do avanço de um processo erosivo chamado voçoroca, que deixa em risco pelo menos 250 casas, segundo a prefeitura.

Este tipo de fenômeno ocorre normalmente em solo do tipo arenoso, conhecido também como "solo leve" devido à composição ter maior percentual de areia e menor em argila, comum na região Nordeste. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB) desde 2014, o incidente geológico é registrado no município, exigindo ações das autoridades públicas.

Com a medida, fica autorizada, por exemplo, a desapropriação de casas "comprovadamente localizadas em áreas de risco de desastre", como cita o decreto. Em alguns pontos, os buracos já avançaram 20 metros em direção às casas.

"Sempre que possível essas propriedades serão trocadas por outras situadas em áreas seguras, e o processo de desmontagem e de reconstrução das edificações, em locais seguros, será apoiado pela comunidade", segue o texto do decreto de calamidade.

Segundo o geofísico Aderson Nascimento, a voçoroca, fenômeno resultado da erosão, acontece pela combinação do efeito da água de forma interna no solo e externa. Isso significa que há ação no lençol freático e da chuva ao mesmo tempo, explica ao Brasil de Fato o professor Titular na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geofísica.

No entanto, ele alerta que a intensidade com que se vê no caso do Maranhão revela que há uma ação humana envolvida.

"Voçoroca é um processo erosivo muitas vezes causado ou aumentado por questões de uso do solo. Tem a ver a forma que a água infiltra e forma esses sucos, que vão crescendo até que formam esses buracos."

"É um processo, digamos assim, que necessita de condições ideais para que aconteça e ele pode ser piorado por uso inadequado do solo", diz o especialista.

Buriticupu faz parte das cidades incluídas no alerta laranja de fortes chuvas emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na sexta-feira (14). Este período do ano é conhecido como "inverso maranhense", por conta da alta intensidade de precipitações.  

Segundo o aviso meteorológico, há risco de chuva entre 30 e 60 mm/h ou 50 e 100 mm/dia e ventos intensos (60-100 km/h), em mais de 50 cidades do estado, incluindo São Luís. 

*com informações do Núcleo de Comunicação do Serviço Geológico do Brasil, do Ministério de Minas e Energia.

Edição: Thalita Pires