Em um domingo (16) marcado por um ataque de Israel contra Gaza, que deixou três policiais palestinos, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentaram neste uma frente contra o que chamam de "seus inimigos comuns", ameaçando "abrir os portões do inferno" para o Hamas e "terminar o trabalho" contra o Irã.
As declarações foram feitas durante um discurso conjunto a repórteres em Jerusalém, onde Rubio começou sua primeira viagem ao Oriente Médio como secretário de Estado de Donald Trump. A fala de Netanyahu ecoou uma declaração de Trump antes da troca de sábado. O presidente dos EUA disse que poderia causar "o inferno" na região e que ele pediria o cancelamento do acordo de trégua se os reféns não fossem libertados no sábado.
"O Hamas não pode continuar como uma força militar ou governamental. Eles devem ser eliminados", disse Rubio sobre o grupo islâmico palestino que lutou contra Israel por mais de 15 meses em Gaza.
Já Hamas afirmou que o bombardeio israelense, ocorrido no sul da Faixa de Gaza, constitui uma "grave violação" da trégua que entrou em vigor no dia 19 de janeiro. "O bombardeio traiçoeiro realizado por um drone sionista nesta manhã, a leste da cidade de Rafah, dirigido contra policiais encarregados de garantir a entrada de ajuda (...) constitui uma grave violação do acordo de cessar-fogo", declarou em um comunicado o movimento palestino que governa Gaza.
Além das declarações sobre Gaza, Rubio chamou o Irã de "a maior fonte de instabilidade na região". Ja Netanyahu disse que, com o apoio do governo Trump, "não tenho dúvidas de que podemos e terminaremos o trabalho" contra o Irã. "Israel e a América estão ombro a ombro para combater a ameaça do Irã", disse ele.
Cessar-fogo em risco
Aumentando a tensão em relação ao acordo de cessar-fogo, Trump fez uma proposta condenada de forma contundente pela comunidade internacional de assumir o controle de Gaza e realocar seus mais de dois milhões de moradores.
Apesar das críticas, Israel reagiu de maneira positiva à ideia. "Discutimos a visão ousada de Trump para o futuro de Gaza e trabalharemos para garantir que essa visão se torne realidade", disse Netanyahu.
Ao anunciar a possibilidade de realocar os palestinos para fora de Gaza, no início do mês, Trump não forneceu detalhes, mas disse que o plano envolveria a mudança de moradores de Gaza para a Jordânia ou o Egito.
O presidente estadunidense disse que os palestinos "viviam uma existência miserável" em Gaza e sugeriu que o território costeiro poderia ser reconstruído na "Riviera do Oriente Médio".
'O único plano'
Washington, o principal aliado e fornecedor de armas de Israel, diz que está aberto a propostas alternativas de governos árabes. Rubio, no entanto, disse que por enquanto "o único plano é o plano Trump".
A comunidade internacional, por sua vez, incluindo a Arábia Saudita e outros estados árabes, é amplamente a favor de uma solução de dois estados, com um estado palestino ao lado de Israel.
O presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi disse no domingo que o estabelecimento de um estado palestino era "a única garantia" de paz duradoura no Oriente Médio.
Rubio está indo para a Arábia Saudita nesta segunda-feira (17) e também visitará os Emirados Árabes Unidos.
No domingo anterior, o ministério da defesa de Israel disse que havia recebido uma remessa de bombas de 2.000 libras fabricadas nos EUA "liberadas pelo governo Trump". O governo Biden havia bloqueado anteriormente um carregamento de munições por medo de que fossem usadas em áreas densamente povoadas de Gaza.
O Hamas e Israel estão implementando a primeira fase de 42 dias do cessar-fogo, que quase entrou em colapso na semana passada.
"A qualquer momento, a luta pode recomeçar. Esperamos que a calma continue e que o Egito pressione Israel para impedi-los de reiniciar a guerra e deslocar pessoas", disse Nasser al-Astal, 62, um professor aposentado em Khan Yunis, no sul de Gaza.
Desde que a trégua começou no mês passado, 19 reféns israelenses foram libertados em troca de mais de mil prisioneiros palestinos.
Das 251 pessoas capturadas no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel, que desencadeou a guerra, 70 permanecem em Gaza, incluindo 35 que os militares israelenses dizem estarem mortos.
Negociações sobre uma segunda fase da trégua, visando garantir um fim mais duradouro para a guerra, podem começar esta semana em Doha, disseram um oficial do Hamas e outra fonte familiarizada com as negociações.
O gabinete de Netanyahu disse que ele convocaria uma reunião de seu gabinete de segurança na segunda-feira (17) para discutir a fase dois.
*com informações da AFP.
Edição: Thalita Pires
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