O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, concordaram em retomar o diálogo e expressaram a vontade de "cooperar" para resolver o conflito na Ucrânia, durante uma conversa telefônica, informou a chancelaria russa neste sábado (15).
De acordo com informações da Rússia, os dois diplomatas expressaram uma "vontade mútua de cooperar em questões internacionais atuais, incluindo um acordo sobre a Ucrânia, a situação em torno da Palestina e todo o Oriente Médio, bem como outras áreas da região".
Lavrov e Rubio "concordaram em retomar os contatos regulares para a preparação para uma cúpula russo-americana de alto nível".
Além disso, os diplomatas "confirmaram sua disposição em trabalhar para restabelecer um diálogo intergovernamental mutuamente respeitoso em linha com o tom estabelecido pelos presidentes", acrescentou a chancelaria russa.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o seu par estadunidense, Donald Trump, conversaram por telefone na quarta-feira. Segundo o republicano, ambos concordaram em estabelecer negociações "imediatas" para encerrar o conflito na Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reagiu e pressionou seus aliados europeus neste sábado, instando-os a reforçar sua unidade para evitar um acordo forjado pelos Estados Unidos sem a participação de Kiev e da Europa para pôr fim ao conflito na Ucrânia.
"Acredito realmente que chegou o momento de criar as forças armadas da Europa", declarou o líder ucraniano na Conferência de Segurança de Munique, em um momento em que se teme um menor compromisso militar de Washington no continente.
A Ucrânia teme ser deixada de lado, assim como a União Europeia, nos diálogos para encerrar a guerra, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa da ex-república soviética.
Neste contexto, o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou os líderes europeus para uma reunião em Paris na segunda-feira, segundo o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, que indicou que estaria presente no encontro.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que defende que a Europa assuma o controle de sua própria defesa, também confirmou presença. Os europeus devem demonstrar "relevância" se quiserem ter alguma influência, argumentou ele.
"Garantias de segurança"
Kiev pediu que Washington elaborasse um "plano comum" para enfrentar a Rússia, mas Zelensky observou que ainda não havia uma posição conjunta após a reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, na sexta-feira.
Neste sábado, o presidente ucraniano anunciou que bloqueou um acordo proposto por Trump para permitir que os EUA tivessem acesso a recursos minerais estratégicos, afirmando que, por enquanto, o republicano "não protege" o seu país e que qualquer decisão deve "estar vinculada a garantias de segurança".
O governo Trump pretende concluir um acordo sobre os minerais ucranianos que "reembolsaria" parcialmente os Estados Unidos pela ajuda fornecida a Kiev.
Quanto à posição de Washington sobre o papel dos aliados europeus, Zelensky afirma que "os Estados Unidos não oferecerão garantias [de segurança] a menos que as próprias garantias da Europa sejam sólidas".
O enviado especial americano, Keith Kellogg, a quem Zelensky convidou a visitar o front, insinuou que os europeus não participaram diretamente das negociações, mas que teriam "voz".
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, incentivou a Europa a compartilhar as próprias posições sobre a Ucrânia e as questões de segurança, "ou então outros atores globais decidirão sobre nosso futuro".
"Não podem tomar decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, assim como não podem tomar decisões sobre a Europa sem a Europa. A Europa tem que ter um assento na mesa" dos diálogos", insistiu Zelensky.
Rússia "precisa da guerra"
Segundo o presidente ucraniano, Putin "não pode oferecer garantias reais de segurança, não só porque é um mentiroso, mas porque a Rússia, em seu momento atual, precisa da guerra para manter o poder coeso".
O líder do Kremlin buscará "que o presidente americano esteja na Praça Vermelha [em Moscou] em 9 de maio [dia em que se comemora a vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista] não como um líder respeitado, mas como uma peça de sua própria performance", acrescentou.
No campo de batalha, o Exército russo reivindicou, neste sábado, a tomada de uma nova localidade na província de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde as tropas de Moscou vêm avançando há meses.
Edição: Thalita Pires
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