Animado após o desempenho eleitoral em 2022, quando foi o partido que elegeu a maior bancada da Câmara Federal, o PL de Valdemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro sonhou com um bom desempenho nas eleições municipais de Pernambuco. O plano era lançar candidaturas próprias no máximo de municípios possível, atrelando os candidatos à imagem do ex-presidente para mobilizar a base bolsonarista nas cidades pernambucanas. Não deu certo.
Se considerarmos as 15 maiores cidades de Pernambuco, o PL obteve 23 cadeiras de vereador (8,1%) entre as 283 possíveis. Excluindo os cinco municípios do interior nesta lista e considerando apenas os 10 da Região Metropolitana, o desempenho melhora um pouco, com 16 cadeiras (8,7%) entre as 184 possíveis. Mas estes números também são inflados pelo grande desempenho em Jaboatão. Se excluirmos a cidade, o PL fica com 5,7% (9 de 157) nos “9 maiores” municípios da RMR e com 6,3% (16 de 256) no “Top 14” de Pernambuco.
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O partido teve melhor desempenho em cidades maiores. Ao incluirmos Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba, estendendo a análise para os 14 municípios da RMR, o índice de aproveitamento da sigla cai um pouco e temos que o PL obteve 18 vereadores de 230 possíveis (7,8%), com Jaboatão representando mais de um terço desse total. Desconsiderando a cidade, o PL fez 5,4% (11 de 203).
O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com o escritório local do PL e com Anderson Ferreira, presidente estadual da sigla. Até o momento não tivemos retorno do mandatário.
O PL é controlado localmente pelos irmãos André Ferreira (deputado federal) e Anderson Ferreira (ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes), ligados a Valdemar da Costa Neto. A dupla tem sido alvo de críticas por parte de Gilson Machado, amigo e ex-ministro de Jair Bolsonaro, além de candidato derrotado à Prefeitura do Recife. O partido no estado foi para as eleições rachado internamente, o que resultou em brigas por recursos e na conquista de apenas duas prefeituras - ambas com campanhas que negaram a imagem de Bolsonaro.
Onde o PL se deu bem
Outra característica comum aos dois gestores que o PL terá em 2025 é que ambos já são prefeitos com mandato e foram reeleitos. Na Zona da Mata Sul, Mary Gouveia (PL) foi reeleita prefeita de Escada, município de 62 mil habitantes, ao vencer por uma diferença de 114 votos. Gouveia, vale ressaltar, não é tão próxima dos irmãos Ferreira ou de Gilson Machado. Seu principal fiador é Sileno Guedes, deputado e presidente estadual do PSB. Na disputa pela Câmara de vereadores, o PL da prefeita ficou com apenas um assento.
O melhor desempenho do PL foi mesmo em Jaboatão dos Guararapes, segunda maior cidade de Pernambuco e controlada desde 2026 pelo clã Ferreira. O prefeito Mano Medeiros (PL) foi reeleito no 1º turno, com 180 mil votos (56%). Ele arrastou consigo sete vereadores do PL, conquistando um quarto das 27 cadeiras na Câmara de vereadores. Os cinco vereadores mais votados são do PL.
Jaboatão tem sido, ao longo das últimas eleições, um terreno fértil para lideranças bolsonaristas, especialmente ligadas às igrejas neopentecostais - caso dos Ferreira. Em 2º lugar na disputa, com 20,2% (65,4 mil votos), ficou a deputada federal Clarissa Tércio (PP), também bolsonarista e herdeira de uma das correntes da Assembleia de Deus e da rádio evangélica mais ouvida na região metropolitana. Em 3º lugar ficou o ex-tucano e neopetista Elias Gomes (PT), com 18,4% (59,5 mil votos).
Ainda que abaixo das expectativas de suas lideranças, os desempenhos do PL podem ser considerados razoáveis no Recife, onde o partido fez quatro (10,8%) de 37 vereadores; Olinda, onde conquistou duas (11,7%) das 17 cadeiras; e Moreno, também com duas (15,4%) das 13 cadeiras. Nestes três municípios o partido teve candidaturas próprias - todas derrotadas.
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Na capital pernambucana, entre os quatro eleitos estão Gilson Machado (filho do ex-ministro de Bolsonaro) e Fred Ferreira, do clã Ferreira. Em Moreno, a dupla de vereadores reeleitos pelo PL, Toni do João Paulo e Rubem do Bar - este sendo o mais votado do município - não dão sinais de serem simpatizantes de Bolsonaro.
No “top 15” de maiores municípios pernambucanos, o PL também ganhou representatividade em Vitória de Santo Antão (fez 2 de 19 vereadores) e Santa Cruz do Capibaribe (2 de 17) - esta última, a única cidade pernambucana em que Bolsonaro saiu vitorioso no 2º turno de 2022.
Perto de zero
Num segundo patamar, municípios em que o PL conquistou apenas uma cadeira, aparecem Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Igarassu, todos na região metropolitana. Entre os 15 maiores municípios pernambucanos, o PL também fez vereadores em Petrolina, Caruaru e Garanhuns. Entre esses seis municípios, o PL só não teve candidatura própria à prefeitura no Cabo e em Igarassu. No entanto, o atual vice-prefeito de Igarassu, o bolsonarista Dr. Gabriel Neto (Avante), foi eleito vereador com 1,8 mil votos.
Nenhum eleito
O PL não conseguiu fazer um vereador sequer em sete (metade) dos municípios da Região Metropolitana. As derrotas foram em Camaragibe, São Lourenço da Mata, Ipojuca, Abreu e Lima, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. Em Camaragibe o partido teve candidatura própria, com Felipe Dantas recebendo 9,6 mil votos (10,4%, em 3º lugar) e o 2º candidato mais votado na disputa para a Câmara de vereadores, Ivan Guedes, que não conseguiu se eleger.
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Em São Lourenço a sigla somou 568 votos e em Itamaracá obteve 273 votos. No Ipojuca, em Itapissuma e Araçoiaba, sequer conseguiu formar chapa de vereadores. Em Abreu e Lima, o vereador reeleito Senna da Saúde (PSB), o mais votado da cidade, com 2,4 mil votos, é um simpatizante do ex-presidente.
Racha, dinheiro e fiasco
No Recife, a escolha de Gilson Machado de lançar o próprio filho na disputa da Câmara desagradou os demais candidatos a vereador, que se viram preteridos na campanha do candidato a prefeito. A desavença afetou o repasse de recursos, controlado pelos Ferreira e por Valdemar da Costa Neto.
O candidato Fred Ferreira recebeu mais de R$1 milhão, enquanto o filho de Gilson Machado foi preterido e não recebeu um real sequer do partido. Mesmo o candidato majoritário foi criticado pelo presidente nacional da sigla, que não enviou a verba quanto previsto, alegando um “comportamento inadequado” do candidato e dizendo que não “queimaria dinheiro” na campanha de Machado.
Mas o principal retrato da desinteligência entre os grupos pode ser visto no Ipojuca, município da região metropolitana cuja importância cresceu junto com arrecadação de impostos, incrementada com o crescimento do polo industrial e portuário de Suape. Por lá, quem controlava o PL era Eduardo Machado, irmão de Gilson. O plano era que o partido apoiasse a candidata da gestão, Adilma Lacerda.
Tudo estava articulado até que, em abril, os irmãos Ferreira destituíram o diretório local, anunciaram a filiação e o lançamento da candidatura de Patrícia de Leno, vice-prefeita da gestão atual. O movimento gerou uma troca pública de ofensas entre os Machado e os Ferreira.
No fim, o PL não conseguiu formar sequer chapa para vereadores, Patrícia de Leno não conseguiu se viabilizar eleitoralmente e acabou declarando apoio à chapa encabeçada por Carlos Santana (Republicanos), que tem o PT na vice, com Irmã Marinalva (PT).
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Edição: Nathallia Fonseca