Na última terça-feira (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos, uma série de atos de rua foram realizados país afora, convocados pela Frente Brasil Popular e pela Povo Sem Medo, agrupamentos que reúnem sindicatos e centrais sindicais, movimentos populares como MST e MTST, até partidos políticos como PT, Psol e PCdoB. Apesar da diversidade de pautas englobadas na convocatória da manifestação, elas não foram massivas. No Recife, cerca de quatro mil pessoas foram às ruas.
Ao fim do protesto, o presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT Pernambuco), o professor Paulo Rocha, conversou com o Brasil de Fato e avaliou que a classe trabalhadora e a militância organizada “estão cansadas”, e ponderou - “mas não estão desatentas”. Questionado por que as manifestações do campo da esquerda têm perdido em mobilização, Rocha avalia que o cenário é fruto de uma sequência de anos de muitas lutas, mobilizações intensas e ataques duros, que deixaram as organizações populares fragilizadas.
O presidente estadual da CUT considera que quando os sindicatos estão fortes, eles também fortalecem os movimentos populares. E os ataques a um também afetam o outro. “São 10 anos de ataques duros à classe trabalhadora. E passamos muito tempo nas ruas, resistindo ao golpe de 2016 [impeachment contra Dilma Rousseff], depois contra as retiradas de direitos”, diz ele.
Para o sindicalista, o pior dos ataques foi a reforma trabalhista do governo Michel Temer. “Aquilo fragilizou o movimento sindical, reduziu o número de pessoas sindicalizadas - seja por campanhas de desfiliação, ou pelo desemprego”, recorda. Os ataques aos sindicatos também foram simbólicos. “Passaram a disseminar com muita força a ideia de que sindicalista é um monte de vagabundo e que não querem fazer nada. Então fomos enfraquecidos na imagem, economicamente e perdemos o poder de representação das categorias”, considera Paulo Rocha.
Ele reforça que o desemprego e os 10 anos de ataques em sequência afetaram a capacidade de mobilização e a disposição para a luta coletiva. Mas o dirigente sindical reforça a importância de colocar em pauta demandas que afetam a população no dia a dia. “A classe trabalhadora está cansada, mas não desatenta. Essa discussão da redução da jornada de trabalho provou isso. A população mostrou disposição para cobrar”, diz Paulo Rocha.
Escala 6 por 1
Ainda sobre o debate que propõe reduzir o teto da jornada de trabalho, hoje em 44 horas semanais, o presidente da CUT Pernambuco defendeu a medida citando impactos na geração de emprego e no equilíbrio fiscal. “É possível ganhar produtividade reduzindo a jornada, para gerar mais empregos. Os estudos na Europa mostraram que a redução da jornada não diminuiu a produção e ainda aumentou o comércio. Isso melhora a vida da população, a economia do país e aumentará a arrecadação do sistema de previdência”, disse.
Leia: Recife, Caruaru, Garanhuns e Petrolina têm manifestações pelo fim da escala 6x1
Corte de gastos
Após a manifestação, o presidente estadual da CUT classificou a manifestação no Recife como “um ato importante, bonito, com muitas palavras de ordem”. “É fundamental essa resistência diante dos ataques à democracia e aos nossos direitos”, completou. Ele também reforçou a necessidade de o governo Lula manter os investimentos federais em educação e saúde.
Aborto legal
Rocha se mostrou preocupado principalmente com as ameaças aos direitos reprodutivos femininos. “Há uma tentativa de acabar com o aborto legal, um direito que as mulheres tem garantido desde o século passado. Essa ‘PEC do Estupro’ obriga meninas a manterem gestações com risco de ela e o feto morrerem”, disse, em referência à proposta de emenda constitucional nº 164/2012, debatida na Câmara Federal, que visa criminalizar quaisquer abortos de gestação, acabando com os casos hoje garantidos por lei. Esse foi um dos temas levados pelas organizações feministas às ruas no Dia dos Direitos Humanos.
PEC que acaba com o aborto legal contou com assinaturas de políticos pernambucanos; saiba quem são
Edição: Vinícius Sobreira